segunda-feira, 1 de julho de 2013

As aventuras de D. Iraci e D. nena - A Chegada da Alemã


PARTE 3

A Chegada da Alemã

Dona Nena e Dona Iraci estavam junto ao muro que dividia o limite de seus terrenos, dedicando-se ao seu habitual dedinho de prosa, quando viram que um caminhão de mudanças estacionou junto a casa que estava para vender, do outro lado da rua. Ficaram observando o movimento. Curiosas, esticaram os pescoços um pouco mais, em uma tentativa de ver mais além.
Foi quando chegou um Fusquinha e estacionou atrás do caminhão de mudanças, e uma jovem senhora de longos cabelos ruivos, que caíam em ondas pelas suas costas, e quadris acentuados pela finura de uma cintura de pilão, saiu do fusquinha graciosamente, colocando para fora suas musculosas e bem-torneadas pernas, fazendo um pouco de suspense. Os homens que carregavam a mudança viraram as cabeças para olhá-la, enquanto ela, curvando-se em direção ao banco do carro e colocando em evidência seu avantajado traseiro , puxou pela corrente uma cadela vira-latas, igualmente ruiva.
Dona Nena coçou o queixo:
“Ora, e não é que tem vizinho novo chegando?”
A outra respondeu, não conseguindo disfarçar um toque de inveja na voz:
“E olha só, Nena, cheia de nove-horas... os home parece que vão cair de quatro...”
“Quem será a periguete?”
Nisso, a mulher começa a conversar com a cadela, como se fosse gente, mas em uma língua que as duas comadres não conseguiam entender.
“Virge, Nena! E não é que ela conversa com cachorro em uma língua esquisita? Será cachorrês?”
Dona Nena lembrou-se das vezes em que ela mesma tinha ouvido a Iraci conversar com Marluce, a galinha, como se ela fosse gente, e resolveu não comentar. Preferiu mudar de assunto:
“ Ih, olha só, ela tá vindo pra cá...”
A ruivaça se aproxima delas, balançando as cadeiras, seguida por sua companheira canina. Uma mecha de cabelos ruivos caindo sensualmente sobre um dos olhos. Quando ela chega mais perto, as duas percebem que ela tem olhos muito azuis.
“Boa tarrrde! Eu ser Gerda, acabar de comprarrr a casa ali!”
As duas se entreolham, com ar de mofa, e não respondem. A alemã continua:
“Eu ser vizinha nova de vocês. Como vão?”
A cadela solta um rosnado, mas logo se cala quando Gerda rosna de volta para ela. Tentando ser sociável, Iraci responde:
“Tudo bom? Meu nome é Iraci, e ela é Nena. Você é estrangeira, não é?”
“Sim, eu serrr da Alemanha. Chegar no Brasil cinco anos antes. Eu conhecerr marido brasileiro pela Internet e casar com ele.”
Mais aliviadas pela menção do marido- afinal, se ela era casada, talvez não representasse uma ameaça para os seus casamentos - as duas decidem ser mais hospitaleiras e chamam Gerda para um café na casa de Iraci. As três passam a tarde proseando, e ficam sabendo que a alemã tem um filho de doze anos. O tempo todo, Nena e Iraci olham a mulher de cima a baixo (sempre que ela não estava olhando)e depois que ela se vai, começam a enumerar os defeitos:
“Viu só, Nena, que ela tem um dente meio-torto aqui na frente?” Iraci diz, tocando o dente canino.
“E tem umas varizi também... acho que já tá meio-passada, não tá não?”
“Se tá! Home não gosta de branquela que nem ela, não...”
As duas se encaminham para o portão e ficam mais alguns minutos conversando, quando Nena vê o Zé – marido da Iraci - saindo da casa da Alemã, que o acompanha até o portão com um baita sorriso nos lábios bem desenhados. Nena observa:



“Xii, muié, aquele lá não é o Zé, não?”
A outra fuzila com o olhar o marido sorridente e cheio de rapa-pés:
“Por enquanto, é; mas daqui a pouco, pode deixar de ser!!!!”
Dona Iraci espera pacientemente, embora seu rosto já esteja vermelho de raiva, até que o Zé termine sua conversa com a Alemã; Nena a observa, já do lado de fora do portão, pronta para correr se a coisa ficar preta, mas ao mesmo tempo, curiosa, e doida para ver o circo pegar fogo. Quando o Zé finalmente entra em casa, a mulher dá-lhe um safanão nas costas, berrando:
“O seu desgramado, o que é que ocê tava fazendo se derretendo todo praquela uma?”
Pego de surpresa, ele se defende:
“Que – que me derretendo o que, Iraci! Eu só tava dando uma olhada na cerca dos fundos do quintal dela, que tá quebrada... fui colocar uns preguinhos, só isso!”
“Ah, é? E por que ela não pede pro marido dela fazer isso?”
“E eu sei lá! Ela me pediu, e eu fiz...”
Iraci lasca-lhe outro safanão:
“E eu, que to te pedindo há mais de mês pra fazer um galinheiro pra Marluce, e você nada? E a outra vai pedindo e você vai correndo né, seu cachorro! Pois agora pode pegar prego e martelo, e ir pra trás do quintal porque eu quero esse galinheiro pronto ainda hoje!”
“Mas mulher, tá escurecendo! E eu acho que vai chover, escuta as trovoada...”
“Dane-se as trovoada! Vai lá pra trás e pega aquela maldita tela e aqueles pedaço de madeira e começa a trabalhar! Já!”
E foi assim que Marluce finalmente conseguiu sua casa própria. E a guerra contra a Alemã foi oficialmente declarada!




2 comentários:

  1. KKK...Ana,essas duas sempre aprontando!...rss..eu adorei e morri de rir com mais um conto das duas vizinhas!Vai virar livro?Deveria!bjs,

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  2. Olá Ana!

    Acho muito divertida esta história de D. Iraci e D. Nena.
    Para quando a próxima parte?
    Um beijo e um sábado lindo!

    Beijos,

    Cris Henriques

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    http://jakeemary.blogspot.com

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