quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

A RUA DOS AUSENTES - Parte 12 (FINAL)






 A Rua dos Ausentes - parte 12 - Final



E naquela noite, havia pessoas na Rua dos Ausentes reunidas cada qual por um propósito diferente: Algumas queriam começar a existir,e outras, queriam apenas o direito de deixar de existir; Algumas estavam iludidas pela possibilidade de riqueza, e outras, consoladas pela pobreza em que viviam. Umas eram jovens que queriam permanecer sempre jovens, e outras, velhos que só queriam a morte, enquanto algumas eram velhos que tinham a esperança de rejuvenescer.


Havia uma bruxa vingativa cuja vida fora destruída há séculos. Havia uma moça que nada sentia, que não tinha sido ensinada a amar e cuja vida tinha sido uma grande mentira desde o início; ela queria vingança e queria também a verdade. Havia um homem velho que amava desesperadamente a uma mulher tão linda quanto fria que o usava. E ele nem percebia.


Havia uma cidade inteira existindo em volta daquelas casas misteriosas, cujos habitantes gostavam de especular sobre aquelas vidas que eles tanto temiam. 


Cada pessoa tinha uma intenção e um medo, uma frustração e um desejo. A vida e a morte brincavam de esconde-esconde entre eles. 


Mas ninguém contava com um desfecho como aquele que eu - a criadora de todos eles, a deusa absoluta sobre seus destinos - havia preparado. 


Um enorme meteoro se encaminhava havia vários anos para o Planeta Terra, e há vários anos cientistas tinham plena consciência sobre a destruição final que se abateria sobre o destino de todos. Enquanto isso, as pessoas apenas continuavam a criar histórias, intrigas, manipulações e fantasias sobre tudo e sobre si mesmas. Não sabiam que dentro em breve tudo estaria arruinado: seus sonhos, medos, decepções, desejos, intrigas, invejas, dinheiro, miséria. Tudo acabaria.


E seria exatamente naquele dia, em que algo estava sendo preparado na Rua dos Ausentes enquanto na pequena cidade, todos dormiam ou bebiam nos bares. E o grande final seria democrático, atingindo inocentes e culpados, bebês, animais de estimação, animais selvagens, velhos, mulheres, homens, gays, transgêneros, indecisos, pessoas de inclinação política à direita e à esquerda e pessoas do centro. Em algumas poucas horas tudo seria destruído (àquela altura alguém já teria espalhado a notícia, mas a nave da salvação já teria deixado a Terra em direção a algum outro planeta aonde talvez jamais chegasse). Nada havia a ser feito.


A lua cheia aguardava no céu, branca, pálida e fria. Havia a sombra de um sorriso em sua face, enquanto as estrelas apenas continuavam a brilhar pela última vez. 



FIM

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

A RUA DOS AUSENTES - PARTE 11




 Capítulo 11


UM A UM 


Ela abriu os olhos e reconheceu o caminho diante dela, por onde já tinha passado, e que a conduziria de volta à mesma casa de onde tinha saído. A névoa da manhã ainda pairava sobre o solo e obscurecia as folhagens que margeavam o caminho. Descalça, Viviane sentiu a umidade das pedras que a levariam até a porta. Parou no meio do caminho e olhou em volta, respirando profundamente. De repente, sentiu-se sendo observada, e olhando para trás, deparou com a figura de Lázaro, que a observava com um meio sorriso no rosto. Ele se aproximou devagar, segurando sua mão.

Ela olhou-o nos olhos e viu o belo jovem que conhecera e por quem se apaixonara – não o velho encarquilhado. Os dois se abraçaram com sofreguidão. Ele disse:

-Desta vez, não foi tanto tempo.

Ela concordou com ele:

-Não. Ela já chegou?

-Sim. Tudo está sendo preparado. Logo poderemos obter tudo o que queremos. Serei jovem novamente.

- E quanto às outras doze meninas? 

-Elas estão sendo preparadas, e chegarão aqui em breve. Será no dia do aniversário de Eduína, daqui a duas semanas. Enquanto isso, você deve conhecê-la e ganhar a confiança dela. Ela será a parte mais importante do ritual.

Ela concordou com a cabeça.

-E quanto à... Hélida?

- Continua adormecida como sempre. Agora vá. 

Ela apertou a mão dele e virando-lhe as costas, continuou caminhando até a porta da casa. Ao abri-la, esta rangeu, chamando a atenção de Eduína, que se encontrava de pé, de costas para a porta, dirgindo-se à cozinha. A moça estancou, olhando para trás e dando de cara com Viviane – aquela que acreditava que ela acreditava ser sua mãe verdadeira. Surpresa, Viviane aproximou-se dela, segurando-a pelos ombros e falando-lhe docemente:

-Minha querida menina.... como você cresceu!

Abraçou-a brevemente, e Eduína permaneceu imóvel.

-Acredito que você já sabe da verdade.

Eduína, entrando no jogo, respondeu:

-Sim, já sei de tudo... mãe. Tenho certeza de que fui criada com um propósito muito nobre. Sinto-me feliz por estar aqui e poder ajudar.

Naquele momento, Guiomar entrou na sala, e levando as mãos ao rosto, deixou escapar um sorriso de surpresa e satisfação. 

-Senhora! Quanta alegria a sua volta nos traz!

Beatriz entrou na sala, e fazendo uma breve reverência com a cabeça. Corou de satisfação ao ver Viviane.

-Seja bem-vinda de volta, senhora Viviane!

As quatro dirigiram-se à grande mesa da sala de jantar, onde Viviane e Eduína sentaram-se lado a lado e foram servidas com um lauto café da manhã. Após o café, Beatriz e Guiomar se retiraram, ambas murmurando alegremente em direção à cozinha.

E na rua, outras pessoas começaram a surgir. Lázaro contou dezessete no total entre homens e mulheres. Algumas daquelas pessoas ele conhecia muito bem, e elas o cumprimentaram com acenos de cabeça ou de mãos. Lázaro ficou surpreso por tantas delas estarem voltando ao mesmo tempo. Mas tudo naquele lugar era imprevisível. Talvez aquilo significasse que em breve, todos os seus ideais se realizariam. Talvez fosse um bom sinal.

Ao final do dia, trinta e cinco pessoas ocupavam todas as casas ao longo da rua. Pessoas de diferentes gerações, que agora ocupavam as mesmas casas. Cada uma delas tinha uma história sórdida a contar. Porém, cada uma delas achava-se digna de desfrutarem aquilo que em breve, acreditavam, estariam desfrutando. Não havia culpa ou remorso em seus atos. 

Algumas caminhavam pela rua e conversavam alegremente, como pessoas normais o fariam. Outras, ao se reverem, se abraçavam brevemente. 

Lázaro entrou no Buick preto e dirigiu-se mais uma vez à cidade. Teria que fazer compras para abastecer todas aquelas casas e alimentar a todas aquelas pessoas. 

Viviane observava tudo pela janela com a mesma surpresa de Lázaro, mas achando também que todos aqueles acontecimentos significavam bons augúrios. 

Ela acenava para alguns conhecidos, e eles acenavam de volta, sorrindo. Eduína colocou-se ao lado dela, sendo abraçada pela cintura por Viviane. As duas ficaram observando as pessoas. De longe, o gato Felix as observava, sentado sobre sua poltrona favorita.  


(CONTINUA)






A RUA DOS AUSENTES - Parte 12 (FINAL)

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