segunda-feira, 23 de março de 2020

Madre- Capítulo 8






MADRE -Capítulo 8

Enquanto esperava pela volta de Tomás, não tendo nada para fazer decidi pagar minha estadia: arrumei todo o apartamento e preparei uma macarronada com as coisas que achei no armário. Quando ele voltou, por volta das onze da noite, encontrou  tudo limpo e a mesa posta para dois. Tinha me dito que voltaria mais cedo para conversarmos.

Nós comemos, e surpreendentemente, descobri que eu sabia fazer uma ótima macarronada, afinal de contas. Contei a ele  o que tinha conversado com minha verdadeira mãe ao telefone. Ele me escutou com atenção, serviu-se de um pouco de vinho. Tomás era um excelente ouvinte e um sábio conselheiro. Finalmente, quando ele sentiu que eu já tinha dito tudo o que eu precisava, ele balançou a cabeça e declarou:

- Sua vida está para sofrer a segunda grande mudança, Aisha. Espero que não seja demais para sua cabecinha. Mas... você não acha que seria uma boa ideia pensar um pouco mais sobre o que sente em relação aos seus pais adotivos? Afinal, eles acabaram de falecer e você mal teve tempo para um período de luto. E saiba, o luto é importante para que a gente supere as perdas.

Eu me encolhi no sofá:

-Eu não sei se eles merecem que eu fique de luto. Me esconderam da minha mãe durante quinze anos. Me roubaram do hospital quando eu nasci. Eu tinha uma irmã gêmea que eu nunca conheci por causa deles. 

-Mas com certeza não foi tudo ruim! Pense nos momentos felizes que vocês tiveram juntos. Quantas vezes você chorou depois que eles morreram, querida?

-Só uma vez, no hospital, depois que eu li a carta que minha mãe deixou. Mas foi um choro de... sei lá... acho que de raiva. Ressentimento. Indignação. Pelo que eles me fizeram.

Ele se sentou ao meu lado, segurando minha mão:

-Olha, eu não gosto muito de me meter na vida dos outros, mas... você caiu aqui de paraquedas, e eu me sinto meio responsável por você. Acredito que tudo na vida tem um motivo, e se tudo isso te aconteceu, foi para o seu bem. Sabe-se lá que vida você ia ter, se não fossem seus pais de mentirinha? Sua própria mãe disse que não poderia cuidar de duas crianças pequenas ao mesmo tempo. Cuidar de uma só já foi difícil para ela. Seus pais fizeram um bom trabalho, não?

Comecei a sentir uma inquietação tomando conta de mim, em forma de ansiedade. Num impulso, fui até a mesa e derramei uma quantidade grande de vinho no copo, bebendo tudo de uma vez só. Não estava acostumada a beber. Mateus ainda tentou me impedir, mas eu corri para o outro lado da mesa e bebi tudo depressa. O efeito foi eficaz: senti meu corpo relaxando aos poucos, em um leve torpor. E as lágrimas de dor pela perda dos meus pais adotivos puderam finalmente romper a barreira da minha dureza e jorrar aos borbotões. Chorei durante muito tempo, e partilhei com ele boas lembranças dos muitos momentos de felicidade que eu vivera junto a eles. Nem sei por quanto tempo eu fiquei contando minha vida para ele, e hoje, quando me lembro, fico agradecida pela paciência que ele teve comigo, em me escutar. Ele riu e chorou comigo. Surpreendeu-se, indignou-se, comoveu-se, gargalhou, caminhou pelas passagens da minha vida como um espectador ativo e interessado. Era tudo o que eu precisava, e ele foi tudo o que eu precisava. Não me julgou, não julgou meus pais, não fez observações idiotas que as pessoas fazem, que começam sempre com “Eu, no seu lugar, teria feito isso e aquilo.”

Horas depois, Mateus me abraçou. Colocou-me na cama e me deu um sonífero leve, sentando-se na poltrona ao lado da minha cama. De vez em quando eu abria os olhos na minha sonolência, e ver ele sentado ali, dormindo ao meu lado, me fez sentir tranquilidade. Na manhã seguinte, quando acordei, ele tinha preparado o café da manhã. Fez eu me sentar e comer. Depois, penteou meus cabelos ainda molhados em um lindo coque (disse ter sido cabelereiro há muitos tempo).  Adorei o resultado do penteado, que fez com que eu me sentisse mais madura. 

Mateus pegou o papel onde eu tinha anotado o endereço da minha mãe, e me entregando, disse:

-Agora vá ver sua mãe. 

E foi o que eu fiz. Peguei minha mochila, despedi-me dele e parti para a rodoviária, onde tomei um ônibus e enfrentei quatro horas e meia de viagem até a cidadezinha onde minha mãe Mayara vivia. 








terça-feira, 10 de março de 2020

MADRE - Capítulo 7






Capítulo 7

No dia seguinte, acordei Às onze e trinta e cinco da manhã sentindo cheirinho de ovos, bacon e café. Meu estômago vazio logo deu sinal de vida, e vestindo minhas roupas, escovei os dentes, lavei o rosto e fui até a cozinha, onde Mateus estava preparando um lauto café da manhã para nós. Ele me explicou que chegara em casa às cinco da manhã e dormira até dez e trinta, o que fazia todos os dias. O bar costumava abrir às sete e trinta da noite, então ele tinha o dia livre para fazer o que quisesse.

Nós tomamos nosso desjejum e depois passei muito tempo contando a ele em detalhes a estranha história da minha vida. Mateus escutou tudo quase sem me interromper, e depois, quando terminei, ele deu um longo suspiro:

-Uau! Parece coisa de novela. Você me superou, Aisha! Eu achei que tinha uma história de vida difícil, isso é, sendo gay e rejeitado pela família... mas você me superou, confesso.

E deu uma grande risada. Ele não me deu conselhos, apenas me perguntou o que eu pretendia fazer em seguida. Respondi que iria procurar minha mãe de verdade, e ele concordou com a cabeça. Depois, em tom de humor, me disse:

-Mas não sem antes tomar um bom banho e lavar essa coisa grudenta que você tem na cabeça. Pode usar a banheira à vontade! Lá tem sais de banho, espuma, e todas as coisas para que você passe alguns minutos relaxando. Já eu... acho que vou dormir mais um pouco. 

Eu o obedeci.

No final da tarde, ele se despediu e foi abrir o bar. Disse que eu poderia ficar com ele o tempo que eu quisesse, que não precisava me preocupar com nada, e eu me senti tão grata, que tive vontade de abraça-lo e beijá-lo, mas não o fiz, achando que ele era só um desconhecido, afinal de contas. Senti naquele meu pensamento traços das lições sobre segurança que minha mãe sempre me passava:

“Nunca ande sozinha, principalmente por ruas escuras. Não fale com estranhos jamais, não poste fotos ou revele sua identidade na internet, ou tomaremos seu telefone e computador. Jamais pegue carona com estranhos ou deixe que estranhos toquem em você. Sempre olhe para trás para ver se não está sendo seguida. Não confie em ninguém!”

Respirei fundo e peguei a carta da minha mãe onde ela tinha escrito o número do telefone da minha mãe verdadeira. Peguei o aparelho de telefone fixo de Mateus.  Mas de repente, toda a certeza que eu tinha foi por água abaixo: quem seria ela, realmente? E se ela me rejeitasse? E se fosse louca ou algo assim, e na verdade, tivesse assassinado minha irmã gêmea? 

A ansiedade tomou conta de mim em rápidas golfadas de ar que pareciam não ajudar em nada na entrada de oxigênio nos meus pulmões. Aquele não era meu primeiro ataque de ansiedade; eu tivera tais ataques a minha vida toda, principalmente durante a noite, quando acordava banhada de suor sem conseguir respirar direito e achando que ia morrer. Geralmente, minha mãe ou Tina me faziam um suco de laranja e me davam um calmante leve, ficando comigo até que eu dormisse de novo. Mas agora eu não tinha ninguém por perto, e precisaria fazer tudo sozinha.

Peguei um copo de água com açúcar e bebi aos pouquinhos, tentando respirar devagar. Vasculhei o armário do banheiro e acabei encontrando uns comprimidos de Diazepam. Parti um deles ao meio e engoli sem água. Aos poucos, fui me acalmando. 

Peguei o telefone e disquei o número. Ele tocou nove vezes e eu já ia desligar, a ansiedade crescendo, quando uma voz cristalina respondeu: “Alô!”

Prendi a respiração, e tentei ficar calma:

-Alô.

Silêncio do outro lado. Eu conseguia sentir a tensão dela. Ela sabia que era eu. Eu sabia que ela sabia. E ela sabia que eu sabia que ela sabia. Enfim...

-Meu nome é Aisha.

-Eu sei. Eu... eu sei! Meu nome é...

- Mayara. Eu sei, é Mayara. Meus pais... eles...

-Eu sei. Sinto muito. Mas você não está sozinha, Aisha. Eu procurei por você a vida toda. A vida toda eu sonhei com o momento em que eu poderia falar com você, olhar para você...

De repente, a raiva me dominou, e eu gritei:

-É mesmo? Então por que deixou ela me levar? Por que não procurou a polícia?

-Porque durante muito tempo eu sabia que não poderia dar uma boa vida a você. Eu era extremamente pobre, e houve dias em que cheguei a passar fome. Eu não tinha ninguém! Nem sei como Georgina... sua irmã... sobreviveu!

As lágrimas desciam sem o menor esforço, formando uma cachoeira no meu rosto. Ela continuou:

- Eu conheci um homem que foi um pai para ela. Ele era muito rico, e tratou-a como a uma filha. Foi então que eu contei a ele a verdade sobre a sua existência, logo depois que ele se casou comigo. Ele me aconselhou a procurar você, mas eu não queria escândalos, não queria que a polícia se envolvesse, pois não desejava prejudica-la. 

-Minha irmã sabia de mim? Ela sabia que eu existia?

-Sim. Eu sempre disse a ela a verdade. Ela queria conhecer você, mas... você sabe, ela ficou muito doente e morreu aos seis anos. Mas ela tinha uma boneca, sabe... o nome da boneca era Aisha. (O tom de voz dela tornou-se quase animado) Ela costumava brincar muito com essa boneca.

-Mas... e meu pai? Onde ele está?

-Seu pai? Ele sumiu, há muitos anos, e ele nunca assumiu a paternidade. Na verdade, era jovem demais. Não sei se ele fez por mal, ficou assustado e ele e a família se mudaram para longe, me deixando sozinha. Meus pais, ao saberem da gravidez, queriam me obrigar a fazer um aborto. Mas eu me neguei, e fugi também. Eu não tinha nada! Consegui ajuda em uma casa para meninas como eu, grávidas e jovens demais. Hoje, seus avós já são mortos. Minha mãe morreu de câncer, e meu pai teve um ataque cardíaco. Eu... nunca pude perdoá-los. 

Deixei que ela falasse sem interrompê-la, o tempo todo dizendo a mim mesma: “Essa é a história de vida da sua mãe verdadeira.” 

-Aisha, eu não queria nada disso. Às vezes as coisas fogem do controle.

-E o seu marido? Ainda vivem juntos?

-Não, ele faleceu há cinco anos. Jorge era bem mais velho do que eu. Praticamente tinha idade para ser meu pai. 

Pensei que ela havia ficado totalmente só. Eu ainda tinha Tina e minha avó emprestada, mas ela não tinha ninguém. Eu me ouvi dizer:

-Quero te ver. Quero te conhecer melhor.

Escutei o choro dela do outro lado da linha.

(continua...)




segunda-feira, 2 de março de 2020

MADRE - Capítulo 6







MADRE - Capítulo 6

Após ler a carta, primeiro me senti completamente anestesiada, como se lesse sobre a vida de outra pessoa. A minha vida parecia uma novela mexicana, um dramalhão de romances de segunda categoria,  uma série brega de TV. Minha mãe não era minha mãe, e meu pai não era o meu pai. Nem mesmo a minha avó era de verdade! Cresci entre estranhos, roubada da minha verdadeira origem. Após mais ou menos uma  hora pensando sobre isso e tentando digerir tudo, tive uma crise de choro. Quem era eu? Qual seria o meu nome verdadeiro – aquele que minha mãe verdadeira sonhara para mim? 

Até mesmo Tina sabia de tudo sobre a minha vida. Menos eu! Todos me enganaram. Eis então o porquê de eu jamais poder colocar minhas fotos e meu nome verdadeiro em redes sociais: não tinha nada a ver com a minha segurança, mas com a segurança dos meus falsos pais! Passei a minha infância e a minha adolescência fugindo de fantasmas que não eram meus. Perdi amigos, o convívio com pessoas que eu gostava e que gostavam de mim, cidades que adorei viver, enfim, tudo para que eu jamais descobrisse quem eu realmente era e também para que minha verdadeira mãe nunca me achasse. 

Eu tinha sido roubada. Poderia perdoar alguma coisa assim? Será que alguém poderia?

Mayara: este era o nome verdadeiro da minha mãe, da minha mãe de verdade. Pensei no quão jovem ela era: apenas quinze anos a mais que eu. Uma menina quando me teve. E eu tivera uma irmã gêmea. Com certeza, um pai, avós, tios e tias, primos e primas. Coisas que nunca tive direito na minha família falsa. É claro que eu tive minha avó Beatriz, mas até mesmo ela não era de verdade, e ajudara meus pais a esconderem tudo de mim e de todos. Não podia confiar nela. Talvez tentasse me impedir de conhecer a minha mãe.  Pensei em ir à polícia e contar tudo, mas o que seria de mim? Talvez me mandassem para um orfanato. Quem sabe achassem que minha mãe verdadeira não poderia tomar conta de mim... ou que minha avó era louca ou algo assim.

Eu estava livre agora: meus pais estavam mortos. Eu precisava pensar, e foi o que eu fiz durante horas, durante a noite toda no hospital. Na manhã seguinte, minha avó estaria ali para me levar de volta para casa e para a minha antiga vida. Mas eu não queria mais ela. Eu queria tomar a s minhas próprias decisões. 
Eram quase três da manhã quando eu me levantei da cama e abri a porta do armário, pegando uma calça e jaqueta jeans, camiseta branca e botas de couro que estavam lá. Também encontrei meu celular e o carregador, e havia uma nota de cem no bolso da jaqueta que Tina tinha me dado de presente de aniversário. Felizmente, ninguém a tinha encontrado. Rabisquei em um bilhete: “Vó, eu estou bem. Não me procure. Assim que eu sentir que eu devo, mando notícias.”  Deixei o bilhete sobre o meu travesseiro.
Sorrateiramente, entreabri a porta do quarto e olhei o corredor vazio, silencioso e semi-escurecido do hospital. De vez em quando uma enfermeira passava e entrava em um dos quartos. Entre uma enfermeira e outra, eu fugi. Ainda sentia algumas dores ao caminhar, mas nada que me impedisse de ir em frente. Quanto às sessões de fisioterapia, elas poderiam continuar depois, ou não. 

Na rua, a noite estava fria. As ruas desertas eram entrecortadas por alguns raros faróis de carros que passavam por mime por pessoas que cruzavam comigo na calçada. Algumas delas paravam e me olhavam, me seguindo com os olhos quando eu passava. Eram ameaçadoras, mas eu apertava o passo e ignorava o que elas diziam. Com as mãos nos bolsos da jaqueta, eu tentava não tremer  - de frio ou de medo? Entrei em um bar cuja porta estava aberta para tentar me recuperar, retomando meu fôlego. Ao olhar para dentro, percebi que era um bar gay, e apesar do adiantado da hora, havia quatro casais sentados às mesas. Eles me fitavam, e pensei no quão estranha era a minha presença por ali. 

O barman, um homem bonito que usava barba e batom vermelho e aparentava alguma coisa entre trinta e quarenta anos (nunca fui boa em calcular a idade das pessoas) se aproximou, dizendo: 

-Perdida por aqui, meu bem?

Tentei aparentar segurança, dizendo:

-Só quero um café quente. 

Ele virou-se de costas e começou a preparar o café, indo aqui e ali. Fez também um sanduíche de queijo, alface, tomate e presunto e me entregou tudo:

-É por conta da casa.
Hesitei, olhando para o sanduíche e depois para ele várias vezes. Ele me encorajou:

-Vamos lá, pode comer, é por conta da casa. Significa que você não precisa pagar.

Franzi a testa:

-EU SEI! Não nasci ontem. (E depois, mais calma, acrescentei): Obrigada. 

Abocanhei o sanduíche e tomei o café. Os casais gays voltaram a cuidar das próprias vidas. Minhas mãos tremiam, e eu senti que ia chorar. As coisas em volta foram ficando cada vez mais embaçadas, e quando percebi, meu rosto queimava enquanto as lágrimas desciam sem parar, mesmo que eu tentasse impedi-las.  Continuei mastigando o sanduíche. O barman se aproximou:

-Como é seu nome? Posso ajudar em alguma coisa?

Eu pensei que eu não tinha nada a perder, e respondi com sinceridade:

-Meu nome é Aisha. 

-Nome bonito! Então, Aisha... está sozinha aqui a essa hora, o que aconteceu? Bem, se não quiser me contar, não tem problema, eu só quero ajudar, mas não me meto na vida de ninguém. 

-Minha história é longa e complicada... seria preciso mais do que alguns minutos para contar ela para você. Mas... posso fazer uma pergunta?

Ele me olhava com atenção e preocupação:

-Vá em frente!

-Se você descobrisse que... se alguém lhe dissesse que sua vida toda era uma mentira, que você na verdade era outra pessoa... o que você faria? Continuaria vivendo como se nada tivesse acontecido ou então... iria atrás de quem você realmente é?

Ele pareceu triste por um instante, e então sorriu levemente, dizendo:

-Bem-vinda ao clube, querida. Na verdade, isso já me aconteceu. E eu decidi correr atrás da minha vida de verdade e descobrir quem eu realmente sou, vivendo isso na maior plenitude possível. E aqui estou eu, dono desse  bar, ganhando minha vida com dificuldades, mas feliz... longe de algumas pessoas que eu pensava que me amavam, mas por outro lado, perto de pessoas que eu nem imaginava que me amassem tanto. Se eu me arrependo? Não.

Pensei por instantes naquilo que ele acabara de me dizer. Comi o último pedaço de sanduíche e bebi o resto do café. Perguntei:

-Foi... muito difícil?

-Sim... às vezes, ainda é. Mas se eu não tivesse feito isso, não poderia me olhar no espelho sentindo respeito pelo que eu visse. Vale um conselhinho: procure a sua verdade, e enfrente o mundo, se for preciso, para que você possa vive-la! E lembre-se: não é preciso matar um leão por dia. Basta domá-los! E se não for possível, dê um chute no traseiro deles e siga em frente!

Eu ri. Pela primeira vez, alguém adulto me dizia algo com toda sinceridade do mundo, e eu me sentia grata. 

-Aliás – disse ele – meu nome é Mateus. 

Senti vergonha por não ter perguntado, e me desculpei, mas ele fez um sinal com a mão, dizendo:

-Deixa pra lá! Nomes nem importam tanto. Sabe, eu já estive em um lugar muito parecido com o seu e alguém me estendeu a mão no momento que eu mais precisava. Isso me ensinou a ser solidário e a ajudar as pessoas que precisam. Se precisar de um lugar para ficar, não hesite em contar comigo! Você não está sozinha! E não precisa me contar nada que não quiser. 

Me lembrei imediatamente de uma história sobre anjos da guarda que Nina tinha me contado, que dizia que eles |às vezes se disfarçam de pessoas para nos ajudar. Mateus estava sendo meu anjo da guarda naquele momento, e eu agradeci a ele mais uma vez, decidindo aceitar a sua oferta. Ele me levou para trás do bar por uma porta vermelha, onde encontrei um apartamento pequeno, mas aconchegante. Havia um quartinho de hóspedes, e ele me entregou lençóis limpos e um cobertor felpudo. Me mostrou onde era o banheiro, embora não tivesse sido nada difícil de encontrar em um apartamento tão pequeno, e a cozinha também. Depois, me desejou uma boa noite e voltou para o bar. 

(continua...)




A RUA DOS AUSENTES - PARTE 5

  PARTE 5 – AS SERVIÇAIS   Um lençol de luz branca agitando-se na frente do rosto dela: esta foi a impressão que Eduína teve ao desperta...