quarta-feira, 18 de julho de 2018

O LAR DE OFÉLIA - PARTE V







No dia seguinte, quando voltou à casa, Ofélia estava a companhada do pai, que ela praticamente obrigara a ir com ela. Quando pararam seus carros em frente ao portão, o pai de Ofélia olhou para a casa e deixou escapar um 'Oh!' de admiração:

-Mas... eu pensei que a casa fosse... achei que ela estivesse... nossa! Mas conseguiremos um bom dinheiro nesta casa, e sem gastar quase nada!

Ofélia não gostou de ouvir aquilo, e disse:

-Pai, eu não pedi a você que viesse aqui para falar em dinheiro... já disse, quero comprar a casa com minha parte na herança de mamãe.

-Ora, mas você não precisa desta casa. Além do mais, se usar o dinheiro para comprá-la, ficará praticamente sem nada. Não posso deixá-la abaixo do preço de mercado, e esta casa vale uma fortuna, filha. 

Irritada, Ofélia ergueu a voz:

-Mas... pai... eu nunca lhe pedi coisa alguma nessa vida! Tomei conta de mamãe por anos durante a sua doença! Perdi parte da minha juventude para que você pudesse cuidar dos negócios da família e também... das suas... aventuras!

-Alto lá, mocinha! Com que direito me julga? Sua mãe e eu não tínhamos nada um com o outro há anos, desde que ela adoecera! Eu tenho minhas necessidades de homem!

-Não o julgo, pai, mas... você precisa ver o meu lado!

-O seu lado, é que você mora em um apartamento excelente que eu coloquei no seu nome, tem dinheiro para viver confortavelmente a vida toda e herdará um império quando eu me for.

Dizendo aquilo, ele caminhou em direção ao portão; chegando lá, lembrou-se de que não tinha a chave, e estendeu a mão a ela, pedindo-a. Ofélia bufou, e remexendo na bolsa, entregou-a a ele. Rony girou a chave na velha fechadura, e abriu o portão, que rangeu, como se reclamasse. Quando pôs os pés no jardim, ele sentiu uma leve pontada, um incômodo quase imperceptível no lado esquerdo do peito. Achou que talvez estivesse com os músculos doloridos, já que tinha ido à academia na noite anterior. 

Rony entrou na casa, e Ofélia o seguiu. Arrependera-se de ter feito o que fizera; deveria ter deixado que o pai visse a casa da forma como ela tinha sido comprada. Exasperada, ela pensava no quanto tudo para ele era uma questão de dinheiro, de lucros. Ele caminhava pela casa sem sentir qualquer emoção, os pensamentos fixados no quanto poderia conseguir com ela. Olhou os móveis rapidamente, avaliando-os; eram antiguidades originais, ele conhecia muito bem aquele estilo. Se conseguisse vendê-las junto com a casa, lucraria ainda mais; caso contrário, qualquer antiquário de respeito ficaria contente em pagar um alto preço por aquela mobília. 

Ofélia o seguia, sentindo seu coração murchar. Tinha certeza de que perdera a sua batalha. De repente, ele se virou para ela, e disse:

-Você não poderia viver nesse casarão sozinha. Seria perigoso demais, e além disso, você é muito jovem, filha. Precisa fazer amigos, voltar a estudar, quem sabe... arranjar um bom casamento.

-Mas pai...

-Está decidido: amanhã mesmo falarei com Sérgio, e a casa será colocada à venda!

-E não há nada que eu possa fazer para convencê-lo do contrário, não é?

Ela tinha os olhos rasos d'água. O pai respirou fundo, mas não cedeu:

-Não. Mais tarde, se desejar mudar-se do apartamento, poderemos encontrar um outro ainda melhor para você. Mas não esta casa, filha. Negócios são negócios.

Eles estavam de pé no alto das escadarias da casa, voltando do andar superior.

Ofélia pensava em como faria para convencer o pai a mudar de ideia; havia uma conexão muito forte entre a casa e ela, e não havia como negar o fato. Ela queria descobrir mais sobre a casa. Nem pensava que gostaria de viver ali, pois ao mesmo tempo que  a fascinava, a casa dava-lhe medo, mas Ofélia sabia que precisava descobrir o mistério daquela casa, pois ele tinha  a ver com sua própria história.

Ela estava descendo as escadas logo atrás do seu pai, envolvida por aqueles pensamentos, quando de repente, ela o viu perder o equilíbrio e projetar o corpo para frente. Não teve tempo de fazer nada a fim de impedir a queda, que se deu de repente: apática, Ofélia ficou estatelada, vendo o pai rolar degraus abaixo, e o ruído de ossos se partindo. Era uma escadaria de mármore, antiga e gelada, e não havia sequer um tapete para amortecer o impacto do corpo contra os degraus.

Quando o corpo de Rony aterrissou no sopé das escadas, Ofélia viu um fio de sangue escorrer da testa do pai. Assim que ele tocou o chão, o piso assumiu uma aparência ainda mais nova, e um tapete riquíssimo começou a surgir, e também alguma mobília antiga, mas luxuosa e em perfeito estado.

Quando Ofélia finalmente caiu em si e conseguiu recuperar-se do choque, ela correu escadaria abaixo, e ajoelhando-se ao lado do pai, passou a sacudí-lo e chamar por ele:

-Pai! Pai! Fale comigo, por favor!

Mas não houve resposta. Ela conseguiu recuperar a calma o suficiente para pegar o celular e chamar uma ambulância.


(continua...)


3 comentários:

  1. Vou seguir... Oxalá tudo corra bem. :/

    Hoje:-Das cartas que eu nunca te enviei.

    Bjos
    Votos de uma óptima Quarta-Feira.

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  2. Ola querida,
    Passando para desejar uma feliz noite.
    Bjs

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  3. 20 de julho dia da amizade.
    Não poderia deixar de vir aqui neste dia tão especial.
    Agradecer a você por fazer parte dos amigos que seguem o meu blog e que sempre que pode passa lá e deixa uma palavra de carinho, um elogio comentando a postagem um oi que para mim é muito significativo. Que seja escrito no momento da visita ou colado, não importa para mim, o importante é ter sido lembrada por você.
    Amigo é aquele que te toca com ternura através das palavras.
    Aquele que te abraça, mesmo longe.
    Aquele que te apoia nos teus sonhos e aquele que critica os teus erros, não para te desmotivar, mas, porque quer em teus caminhos a luz plena.
    Ser amigo é ser luz, ser amigo é transferir o melhor que há ao próximo.

    FELIZ DIA DA AMIZADE!
    Abraços da amiga Lourdes Duarte.

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