domingo, 16 de agosto de 2020

O DIA QUE MUDOU MINHA VIDA - PARTE 5





 PARTE 5 

Os anos se passaram. Minhas irmãs fizeram faculdade, se casaram e se mudaram para suas próprias casas. Paola abriu um escritório de advocacia, e Sandrinha, que estudara moda, sua própria loja de roupas. Ambas eram felizes e realizadas em suas profissões, e eu as evitava, inventando desculpas para não ter que aceitar seus convites para ir às compras ou almoçar. 

Paola me contara que Breno tinha se mudado para outro estado depois que se formara. Dei graças a Deus por nunca mais ter que encontra-lo. 

Eu me formara como professora, só porque era mais fácil e eu não teria que me esforçar muito para fazer uma escolha. Aos vinte e seis anos de idade, eu aparentava bem mais. As olheiras das noites mal dormidas se fixaram sob os meus olhos, e minha magreza extrema deixava minhas faces encovadas. Meus cabelos, agora sem vida, foram cortados curtos e mantidos sempre em um rabo de cavalo sem graça. Eu passei a fumar e a beber de vez em quando em meu apartamento pequeno e sem graça onde eu vivia sozinha, que eu comprara com a ajuda dos meus pais. Meu casamento durara apenas dois anos, e um dia, vi meu marido sair pela porta carregando uma mala e dizendo que “Simplesmente não aguentava mais viver com alguém tão emocionalmente fechada.” 

Não fiz nada, a não ser assinar os papéis do divórcio e comprar o tal apartamento sem graça que eu nunca mobiliei de verdade, as coisas todas dentro de caixas. 

Às vezes, meus pais me visitavam, e aqueles momentos eram torturantes, com minha mãe tentando arrumar as coisas em prateleiras que não eram suficientes para tudo, e procurando cadeiras onde pudesse colocar as roupas que ela dobrara e que tinha encontrado em uma pilha no canto do meu quarto. 

Eu dava aulas de História. Era uma péssima professora, e sentia, quando eu entrava na sala de aula, os alunos se entreolhando e fazendo caretas atrás de mim. Eu os mandava abrir os livros e eles se intercalavam nas leituras do capítulo. Era só. A aula estava dada. Aplicava as provas, dava as notas e fim. Ganhava meu salário no final do mês, comprava alguma comida, cigarros e bebida. As roupas que eu usava eram todas em tons de preto e bege. Não havia outras cores penduradas nas araras ‘temporárias’ que meu pai montara em meu quarto “Só-até-você-comprar-um-guarda-roupa” e que já estavam lá há anos.

Eu não tinha uma vida.

A não ser quando dormia e reencontrava Betina. E ela parecia nunca envelhecer, sempre tão bonita e sorridente, sempre tão jovem, sempre tão morta e sempre me perguntando por que eu a tinha deixado sozinha. 


(continua...)




4 comentários:

  1. Muito bom mesmo! 🌹🌹
    *
    As férias terminaram, agora vamos com calma...
    .
    3º Dia... E de coração cheio...
    .
    Beijo e uma excelente semana.

    ResponderExcluir
  2. Olá amiga!
    É bem verdade que a vida de cada um de nós, tem sempre
    uma magia que dá para passá-la da ponta dos dedos, e escrever uma linda e interessante história! Gostei bastante do que li, fico esperando pelo final!
    Beijo com meu carinho de paz e bem.💖💙💐🍀

    ResponderExcluir
  3. Me empolguei com o conto, tomara não esquecer de acompanhar os próximos episódios. Bjs

    ResponderExcluir
  4. Outra vez prazerosa leitura, vou voltando e lemdo todos.

    Abraços!

    ResponderExcluir

Obrigada por visitar-me. Adoraria saber sua opinião. Por favor, deixe seu comentário.

A RUA DOS AUSENTES - Parte 4

  PARTE 4 – A DÉCIMA TERCEIRA CASA   Eduína estava sentada em um banco do parque. Era uma cinzenta manhã de quinta-feira, e o vento frio...