sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

A MENINA E O LEÃO


Era uma vez uma menina que adotou um leão perdido que ela achou na floresta, junto à sua fazenda, enquanto ela mesma também estava perdida. Ela se apaixonou pela beleza dos seus olhos dourados, e a maciez aveludada do seu pelo, que se deitava ao peso dos seus dedos vagarosos.

Os dois voltaram juntos para a casa da menina, e naquela noite, eles conversaram até adormecer, se aquecendo junto à lareira, enquanto uma noite fria e branca se desenhava lá fora, nas molduras das vidraças. 

Na manhã seguinte, ao preparar o café da manhã, ela percebeu que o leão não se agradava das coisas que ela comia; ele queria carne. Mas por algum motivo, ele se fez de cansado demais para ir à caça do seu próprio alimento, e então a menina, com pena do leão, resolveu fazer aquilo por ele. Assim estabeleceu-se um acordo silencioso entre os dois: ela caçava para o leão e ele protegia a casa enquanto ela estivesse fora, caçando ou trabalhando.

Às vezes a menina chegava em casa e não encontrava o seu leão; ele desaparecia por horas e horas, só voltando à noite, faminto e cansado. Um dia ela resolveu segui-lo para ver para onde ele ia, e surpresa, descobriu que o leão tinha uma família - pai, mãe e irmãozinhos. Ele sempre levava um pedaço da sua carne - a que a menina caçava - para alimentar sua família. Ela teve pena, e convidou a todos para viver com ela na fazenda.

Logo, ela percebeu que teria que trabalhar muito mais a fim de sustentar a todos eles, que nada faziam, a não ser tomar conta da fazenda enquanto ela estava fora. E isso eles faziam muito bem, pois ninguém mais se aproximava do local! O carteiro, o leiteiro, o padeiro e os amigos da menina desapareceram de vista ao serem recebidos por leões ferozes ao tentar visitá-la. Logo, a menina mal mantinha contato com sua própria família. E a família do leão era absorvente e muito exigente.

Quando estavam todos em casa, a menina percebia que eles a deixavam de fora das conversas e atividades. Quando ela os interrompia, tentando fazer parte do grupo, era olhada com desdém e tratada com complacência e indiferença. Às vezes, eles deixavam bem claro que ela jamais seria uma deles, pois não tinha o mesmo pedigree. A mamãe leoa era muito ciumenta, e fazia de tudo para humilhar a menina. Os leõezinhos, muito dependentes e frágeis, estavam sempre pedindo coisas ao leão, recusando-se a aprender a fazer as coisas sozinhos, e também eram demasiadamente ciumentos. Papai leão, um patriarca feroz, defendia a sua clã de qualquer admoestação da menina, dizendo que ela deveria sentir-se honrada por ter permissão de pelo menos permanecer perto deles.

Mas a menina amava o leão, e fazia tudo por ele, que só era realmente bom com ela quando precisava de alguma coisa. 

Um dia, a menina adoeceu, e não pôde sair para caçar a comida dos leões. Eles até cuidaram dela no início, mas logo se cansaram. Após três dias de cama, eles a devoraram, repartindo suas carnes magras entre eles. Depois, voltaram para a floresta a procura de outra menina que lhes desse guarida.




Um comentário:

  1. Olá, querida amiga Ana!
    Não faltam predadores que se aproveitam das meninas e a destroem, em seguida, saem em cata de outras inocentes e bondosas que ainda creem em leões. Coitadas!
    Um excepcional texto conduzido pelas suas mãos de escritora.
    Tenha dias de descanso abençoados!
    Beijinhos

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