segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A MENINA E A ÁRVORE DE NATAL



Quando passei pelo corredor a fim de chegar até a cozinha, ela veio atrás de mim. Pendurou-se na bainha de meu vestido, pedindo, os enormes olhos castanhos grudados nos meus:

-Tia, me faz uma árvore de natal?

Eu já tinha decidido que este ano, não teríamos uma árvore de natal em casa. Houve morte. Houve acontecimentos tristes. Geralmente, lá para meados de novembro, a árvore está lá na sala, montadinha, com todas as luzes. Mas apesar de ela ter sido descida do sótão e estar me esperando no quarto de hóspedes, passo por ela e pelos enfeites empacotados e finjo não ver... olhei para a menina, respondendo:

-Olha, esse ano, não vai dar...
-Por que, por que, por que? - Ela me perguntou, sacudindo a barra de meu vestido, que soltei-lhe das mãos delicadamente, enquanto continuei em meu trajeto até a cozinha.

-Porque não. 

Ela fez beicinho, cruzando os braços:

-Gente grande é tudo a mesma coisa! Sempre falam assim com a gente: "Porque nãããão!"

Ralhei com ela, mas de forma delicada:

-Olha, seja uma boa menina, e vá para a sala assitir TV. OK? Estou muito ocupada agora.

Mas ela não se deu por vencida, já iniciando uma pirraça: "Aaaahhh! Me faz uma árvoreeeee!"

Respondi, desta vez, zangada:

-Já disse que não! Agora vá assitir TV como eu mandei, e não me enche mais a paciência!

Ela me olhou de boca aberta por alguns instantes, e saiu, batendo o pé. Quando passei por ela novamente, ela estava sentada no sofá, vermelha de raiva, fingindo que assitia Tom & Jerry. Olhou para mim de rabo de olho enquanto eu passava, mas não disse nada. Apenas continuou olhando a TV, enrolando no dedo uma mecha de seu cabelo negro e liso.

Pensei: 'Finalmente, ela vai me deixar em paz. Criança esquece rápido, acaba sempre se distraindo com outra coisa!"

Mas, uma hora depois, como não ouvisse nem o som de seus passinhos no assoalho, fui ver o que ela estava fazendo; encontrei-a chorando baixinho, enquanto segurava em suas mãozinhas um papai Noel de plástico, todo melado de brigadeiro. Sentei-me perto dela:

-O que foi agora?

-Você tinha prometido... lá na outra casa, a gente nem sempre podia ter uma... árvore... de ... natal! , Ela disse, entre soluços.

-Mas olha, haverá outros natais... e eu prometo que no próximo ano, a gente...

Ela me interrompeu:

-Você vive prometendo e não cumpre! Eu queria uma neste... (snif..snif...) natal! A gente nem sabe se vai estar aqui de novo no ano que vem...

Suspirei profundamente. Olhei para aquela menina destruída, apenas porque eu lhe dissera que não haveria uma árvore de natal esse ano. Segurei seu queixo, obrigando-a a olhar para mim e vi seu rosto banhado em lágrimas.

-Tá bem, então. Vamos fazer uma árvore amanhã de manhã. 

Imediatamente, ela sorriu, o maior sorriso que já vi:

-Promete?

-Prometo!

Então, a menina (que mora dentro de mim) saiu correndo para brincar no jardim.



2 comentários:

  1. Que sensibilidade !
    Ouvir a criança interior nos faz muito felizes!

    Bejus Ana!

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  2. Olá Ana,

    Dentro de cada um de nós adultos existe uma criança interna, que chora, faz birra lutando contra as contrariedades da vida devido às escolhas complicadas e difíceis que faz. Conscientemente, não sabemos o porquê dessas mesmas escolhas, que na altura parecem tão acertadas... E quando chega a noite, adormecemos e voltamos a ser crianças felizes sonhando com o Natal.
    Lindo conto, minha amiga.
    Parabéns e permite-te sonhar.

    Beijos,

    Cris Henriques

    http://oqueomeucoracaodiz.blogspot.com

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