sábado, 10 de maio de 2014

A Condutora



Seu destino era conduzir. Passava pelos caminhos onde agonizavam as almas em sua passagem, e ajudava-as a desprenderem-se da matéria densa que já não mais lhes cabia. Alguns a confundiam com alguma espécie de mensageira quando ela lhes aparecia; quem sabe, devido à sua diáfana aparência piedosa, que deslizava pelo chão sem fazer qualquer barulho.

Ela caminhava pelos corredores dos hospitais, procurando por aqueles que estavam prontos para ir. Quando eles a viam, estendiam-lhe os braços, e os parentes e acompanhantes que estavam com eles nos quartos sentiam um arrepio na nuca ao ver a cena, tendo a impressão de que seus entes queridos enxergavam alguém que só estava ao alcance de suas visões moribundas. Os mais céticos diziam ser efeito dos medicamentos.

Mas quando estas cenas começavam a acontecer, Marilda - uma das enfermeiras daquele grande hospital - sabia que aquele paciente em breve faleceria. Ela nunca tinha visto nada sobrenatural; apenas observava e sentia, após tantos anos assistindo pacientes terminais, que estes estavam indo embora; e não era nada relacionado ao seu estado, pois muitas vezes, alguns tinham melhoras súbitas, chegando a comer e caminhar pelos corredores; mas quando eles estendiam os braços para o nada, olhos perdidos em alguma figura que só eles enxergavam, não demorava muito e chagavam a óbito. 

Marilda ouvira relatos de alguns destes pacientes, que, de repente, enquanto ela cuidava deles, perguntavam: "Quem é esta senhora de branco?" Marilda , acostumada àquele tipo de pergunta, pedia a eles que a descrevessem, e onde ela estava, o que fazia, e os relatos eram quase sempre muito parecidos: "Ela está de pé junto à cama, perto de você. Não está vendo? Usa um véu e um vestido longo e branco, e carrega um buquê de lírios brancos. Oh, eu acho que é um sinal! Eu estou perto da cura!"

Marilda sorria para os pacientes, pois sabia que de alguma forma, eles estavam certos...


7 comentários:

  1. Arrepiante e lindo ao mesmo tempo.
    Bom fim de semana.
    Beijo.
    Nita

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  2. Intrigante.
    Feliz dia das mães, beijo Lisette.

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  3. Muito interessante, tbm creio que no momento em que saímos deste corpo um anjo nos ajuda a fazer a passagem.

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  4. Lindo, verdadeiro, real! Que a "condutora" possa conduzir por caminhos de luz e paz! Feliz finalzinho de domingo!

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  5. Boa tarde Ana.. em alguns estrofes tu disse tudo..
    eu como já fiz regressões.. pude ver cenas.. e seres assim que nos vem buscar na hora de irmos a outro plano..
    não é o plano espiritual que se afasta de nós.. somos nós que nos afastamos dele..
    a densidade ainda é monstruosa.. quanto mais as pessoas sentirem medos e viverem com a mente fechada.. mais vão sofrer.. bjs e um lindo dia

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  6. Oi Ana, também acredito que na hora de ir embora daqui, haverá alguem nos esperando, bem como quando nascemos e somos amparados sem saber onde estamos.
    bacios

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