terça-feira, 17 de março de 2015

Nem Tudo é Bem Assim - Parte I





Ele a viu pela primeira vez em uma loja de flores, enquanto procurava um presente de aniversário para a mãe. Desde o primeiro olhar, não conseguia tirar os olhos daquela jovem que tinha alguma coisa tão diferente das outras jovens que já vira - e que ele não conseguia saber o que era. Ela caminhava entre os vasos de rosas e os arranjos de flores do campo, parando para aspirar-lhe os perfumes. Usava uma blusa de cashemere azul-clara e um cachecol branco felpudo, cujas pontas soltas caiam ao longo do seu corpo. Os cabelos castanho-escuros cortados bem curtos deixavam em evidência os traços marcantes do seu rosto; aparentava ter algo entre 29 e trinta e dois anos, mas ele não tinha certeza. Ficou ali, em um canto da loja, escondido por trás das samambaias que pendiam do teto, observando-a durante algum tempo, até que um homem surgiu, colocando a mão no ombro da moça. Ela virou-se e sorriu para o homem, beijando-o no rosto, e sem saber o motivo - afinal, era só uma estranha - o coração dele se apertou, e uma batida falhou. E ela nem era demasiadamente bonita; era daquelas pessoas comuns que a gente nem percebe, até que começa a prestar atenção, e quando vê, ficamos totalmente absorvidos por alguma coisa que não sabemos dizer o que é - o charme? A personalidade? A maneira como a pessoa ajeita os cabelos? Não conseguia definir o que o atraía tanto naquela moça; só não conseguia tirar os olhos dela.

Quando ela se foi e a vendedora entregou-lhe o arranjo que escolhera para a mãe, ele jogou o dinheiro sobre o balcão e nem esperou pelo troco: saiu apressado, deixando a vendedora com o troco na mão estendida. Resolveu seguir o casal, que andava a poucos metros dele, de mãos dadas. Viu quando os dois entraram em um café. Ele os seguiu, sentando-se em uma mesa próxima, mas não tão próxima que não o permitisse observá-los sem ser visto. Assim que sentaram, o homem sacou um telefone celular e começou a verificar alguma coisa. A moça pediu um capuccino, e enquanto esperava, passava os olhos nas páginas de uma revista amassada que estava disponível para os clientes do café em um revisteiro. Passaram-se alguns minutos, a garçonete trouxe os pedidos e o homem ainda estava olhando para a tela do celular. Tomaram os cafés e saíram. Ele os seguiu novamente. Percebera, pela atitude segura do homem e pela falta de cortesia , que eles já deviam se conhecer há bastante tempo. Casais novos e apaixonados não se sentavam em um café sem olharem um para o outro durante tanto tempo. Mais à frente, viu quando os dois entraram em um carro preto. Como seu carro estivesse longe, não pôde continuar a segui-los. Sentiu-se decepcionado e frustrado.

Mas dias depois, ele a reencontrou durante a hora de almoço em um restaurante self-service, e daquela vez, estava sozinha. O restaurante estava cheio, e só havia duas mesas disponíveis; ela conseguiu uma delas, e ele esperou até que alguém pegasse a outra mesa, o que não demorou. Assim, ele aproximou-se dela com o prato na mão, olhando em volta, e seu olhar parou sobre a cadeira disponível na mesa dela. Ela sorriu, fazendo sinal para que ele se sentasse. Ele agradeceu, tomando o lugar em frente a ela:

-Obrigada. Está aguardando alguém? Se estiver, eu saio assim que ele - ou ela - entrar, não se preocupe.

Ela sorriu novamente, olhando-o mais demoradamente antes de responder:

-Não... fique à vontade, não estou esperando ninguém. 

Os dois comeram em silêncio durante algum tempo. Ele precisava dizer alguma coisa, mas não queria tornar-se um chato inconveniente. De repente, o celular de um homem começou a tocar na mesa ao lado; ele atendeu, e começou a conversar em voz alta, ignorando a mulher que estava com ele. Os dois se entreolharam, e ele encolheu os ombros. Ela riu discretamente. aproveitando a oportunidade, ele comentou:

-Acho terrível quando as pessoas conversam ao celular desta forma. As pessoas passam mais tempo ao celular do que dando atenção a quem está na sua frente.

Ela não respondeu, apenas encolheu os ombros. Mas ele percebeu que uma leve sombra passou rapidamente pelo rosto dela. Notou também que ela deitou os talheres , o que significava que tinha terminado a refeição. Ele precisava pensar rápido, e acabou dizendo a coisa mais idiota e comum possível:

-Você sempre vem aqui?

Ela respirou fundo, tomando mais um gole do copo de suco que ainda estava acima da metade.

-Não. Na verdade, não. 
-É um bom restaurante. A comida é boa. Não acha?
-Sim, quero dizer... bem, é sim. 
-Trabalha por qui?

Ela olhou-o, desconfiada, e sacudiu a cabeça negativamente. Agarrou a bolsa, e tomou mais um gole de suco antes de começar a levantar-se:

-Preciso ir. Bom apetite.

Dizendo aquilo, ela saiu. 

Ele ficou pensando se ela não o tinha achado atraente. Sentiu-se frustrado mais uma vez. Tinha sido indiscreto? "Mas que idiota", pensou. "Fazer logo uma pergunta cliché como aquela: "Você sempre vem aqui?" "

Ele terminou sua refeição e saiu. Estava quase chegando ao escritório onde trabalhava, quando a viu novamente, parada na esquina, remexendo a bolsa. Seu rosto parecia muito contrariado e aflito. Achou que seria uma chance de reaproximar-se. Caminhou até ela, e com cuidado para não assustá-la, parou a alguns metros de distância:

-Olá. Lembra de mim? 

Ela olhou para ele parecendo desconfiada. Continuou remexendo na bolsa. Tentou sorrir, e finalmente disse um "oi" sem intonação. Ele esticou o pescoço:

-Posso ajudar em alguma coisa? Você parece aflita.

Ela olhou para ele sem responder. Ele sorriu, um sorriso que teve a intenção de desarmá-la, e conseguiu, pois ela sorriu de volta. De alguma forma, ela sentia que ele não era um tarado ou um serial killer, e que talvez só quisesse mesmo ajudá-la. 

-É que eu esqueci de pagar dinheiro. Preciso tomar um ônibus e não tenho nenhum trocado. paguei o almoço com meu cartão, e agora vi que não tenho nenhum dinheiro comigo.

-Para onde você está indo? Talvez eu possa levá-la até lá, se não for muito longe...
 (Ele disse aquilo e logo se arrependeu, pois ele a levaria de carro até a China, se ela quisesse). 

-Hã... estou indo visitar alguém. Fica na Rua Barros de Pina. 

-Mas não é tão longe. Posso levá-la, terei que passar por lá - ele mentiu.

Ela hesitou, parecendo desconfiada. Ele sorriu novamente:

-Tome isso como um pequeno favor. Se não fosse por você, eu estaria tentando achar uma mesa até agora. 

Ela sorriu de volta, e a tensão na sua testa aliviou-se. 

-Está bem. Se eu não for atrapalhar.
-Não, de jeito nenhum, meu carro está logo ali. A propósito, meu nome é Roberto.
-Eu sou Bia. Prazer.

Eles apertaram as mãos. Roberto sentiu que a mão dela era pequena e gelada, mas muito macia. Achou que adoraria colocá-la sob seu suéter para aquecê-la. 

Os dois caminharam em direção ao estacionamento. O manobrista, velho conhecido, não pode deixar de observar, com ar malicioso (os dois já se conheciam há anos):

-Saindo mais cedo, Roberto?

Ele - Roberto - olhou-o muito sério, e desenhou com os lábios a frase "Cale a boca." O manobrista desenhou com os lábios a palavra "Desculpe." Bia não percebeu nada. 

Os dois entraram no carro em silêncio, e Roberto ligou o aquecedor - fazia muito frio, e ela esfregava as mãos. Ele dirigiu alguns metros em silêncio, diminuindo a velocidade para prolongar o trajeto o mais que pudesse. Ligou o CD, colocando uma música suave. Ela sorriu:

-Eu adoro esta música. 
-Eu também! Você gosta de Enya?
-Adoro. Sou fã roxa dela.
-Que coincidência, eu também! Tenho vários CDs da Enya. Você ... tem namorado?

Detestou-se um segundo após a pergunta. Que idiota antiquado! Mas ela olhou para ele:

-Na verdade, sou casada.

Ele engoliu em seco, e sentiu o rosto corar:

-Desculpe, eu... que indiscreto... sinto muito.

-Calma, eu sou apenas casada. Não te disse nada sobre minha vida sexual. Não precisa ficar constrangido. Além disso, perguntar não ofende. Olhe... pode me deixar ali em frente ao prédio de tijolos vermelhos, por favor?

Ele diminuiu a velocidade, parando bem em frente ao prédio. Ela estendeu-lhe a mão, dizendo um "Obrigada, Roberto." Os olhares de ambos se prenderam um no outro durante alguns instantes. Ele queria dizer alguma coisa que fizesse com que ela não saísse por aquela porta e deixasse de fazer parte da vida dele. Ela sentiu a mesma coisa. Mas ele apenas estendeu a mão, e segurou a mão dela respeitosamente. Ainda pode dizer um "Tchau, Bia. Espero te ver de novo."  Ela sorriu, mas não respondeu. 

Semanas depois, Roberto ainda pensava em Bia. Nunca mais a vira, embora voltasse religiosamente todos os dias ao mesmo restaurante aonde a vira pela primeira vez. Também dirigia próximo ao prédio onde a deixara, mas mesmo assim, ela parecia ter desaparecido. Tentou encontrá-la no Facebook, mas havia tantas centenas de milhares de Bias, que ele não conseguiu. Acabou concluindo que ela talvez não tivesse uma conta de Facebook. 

Certa manhã, Roberto chegou ao escritório e teve uma surpresa: Seu supervisor geral apresentava um novo funcionário. Seu nome era Carlos. Ele o reconheceu no primeiro olhar: o marido de Bia!
Os dois trabalhariam na mesma equipe. Desde o começo, Roberto tentou encontrar motivos para não gostar de Carlos, mas não encontrou nenhum. Os dois acabaram ficando amigos, e almoçavam juntos quase todos os dias, naquele mesmo restaurante onde Roberto ficara conhecendo Bia. Um dia, Bia juntou-se a eles inesperadamente. Ao vê-la aproximar-se da mesa onde almoçava com Carlos, Roberto quase engasgou. Ela aproximou-sem e sem tirar os olhos dele, beijou o marido no rosto, dizendo:

-Afinal, Roberto, nós nos vemos de novo. Conhece meu marido?

Carlos olhava de um para o outro, mas permaneceu em silêncio quando Roberto, estarrecido,  recebeu  no rosto o mesmo beijo que Bia dera nele. Roberto sentiu os lábios dela queimarem sua pele, e tratou de recompor-se rapidamente:

-Ah, Carlos... que coincidência! Você é o marido da Bia! 

Carlos respondeu, um olhar indagador e enciumado:

-Não sabia que vocês já se conheciam.

Bia explicou:

-Lembra-se daquela tarde que um estranho ofereceu-me carona até a casa dos seus pais? Era Roberto. O mundo não é pequeno?

Todos riram da coincidência, embora Carlos sentisse uma pontada de ciúme, um sentimento que nunca havia tomado conta dele antes. Talvez porque ele sentira que Bia olhara para Roberto de maneira diferente da que ela olhava para seus outros amigos? Talvez porque Roberto ficara muito vermelho ao ver Bia aproximar-se da mesa deles? Ele não sabia dizer; mas certamente, havia um clima diferente entre os dois, o que fez com que Carlos tentasse mostrar sua superioridade intelectual durante o almoço, fornecendo argumentos contra tudo o que Roberto tentava discutir sobre  a política do país, sobre futebol ou qualquer outro assunto. Roberto e Bia perceberam o desespero de Carlos, mas deixaram-no pensar que estava "vencendo", embora não soubessem exatamente o quê. 

Ao final do almoço, Bia já convidara Roberto para almoçar com eles naquele final de semana. Carlos reforçou o convite.

Quando o dia do almoço chegou - um sábado gelado de céu encoberto - Roberto parou o carro em frente ao endereço indicado pelo amigo, e deparou com um aconchegante chalé em rua sem saída arborizada e silenciosa, onde havia poucos vizinhos. Ao entrar, foi acolhido por um beijo caloroso de Bia, que pegou-o pela mão, convidando-o a sentar-se junto à lareira acesa enquanto já servia-lhe um conhaque:

-Carlos já estará aqui. Está tomando banho.

Ela sentou-se ao lado dele no sofá de dois lugares, o joelho  roçando o dele acidentalmente. Ele tomou um grande gole do conhaque, fazendo uma leve careta, e sentindo-se logo aquecido.

-Vocês tem uma linda casa, Bia. São casados há muito tempo? 
-Há quase onze anos. 

Ele ergueu as sobrancelhas. Para ela, a decepção estampada no rosto dele era óbvia, mas ela fingiu não notar. Ela pôs a mão sobre a dele, dizendo:

-Venha. Vou te mostrar o jardim.

Ele a seguiu pelos fundos da casa, passando pela cozinha, onde alguma coisa perfumada estava sendo cozida no forno. Reparou a bancada em desordem, cheia de ingredientes para o almoço, e sentiu um pouco de inveja por não ser ele o felizardo a desfrutar daquela rotina acolhedora. Na pia, entre algumas louças para lavar, uma garrafa de vinho quase vazia e duas taças de vinho usadas. Roberto imaginou que as taças de vinho tinham sido usadas na noite anterior, em uma noite de amor. Sentiu ciúmes. Chegaram a um pequeno espaço cheio de plantas e orquídeas floridas,  no momento coberto por um teto de vidro que poderia ser recolhido em dias de sol. Uma linda estufa. Logo após, um gramado aveludado se estendia diante dos olhos deles, e ao fundo, uma pequena piscina coberta por uma lona aguardava sua época de ser usada. Roberto disse sinceramente:

-Que lugar lindo! Vocês tem muito bom gosto.
-Obrigada! Temos muito orgulho deste espaço que construímos com tanto sacrifício... sabe, quando nos casamos, não tínhamos nada. Morávamos de aluguel em um pequeno apartamento no centro...

E Bia começou a dar um pequeno discurso sobre como eles começaram a vida, o que deixou Roberto desesperançoso, pois percebeu o quanto a vida deles estava entrelaçada. Mesmo assim, ele escutou-a com atenção e boa vontade. Ela mostrou-lhe uma orquídea rara e belíssima, presente da mãe, que estava sobre uma prateleira. Roberto bebia com os olhos, não a flor, mas Bia. E foi assim que Carlos encontrou-os: Bia de pé, curvada sobre a flor, o rosto a poucos centímetros do de Roberto, que estava sentado e fingia admirar a flor enquanto tinha os olhos presos no rosto de Bia. Carlos pigarreou, e entrou:

-Olá, Roberto. Bia, como você pode trazê-lo aqui para fora nesse frio? Veja, o rosto dele está pegando fogo de tão gelado. Vamos, entre, amigo. Vamos terminar sua taça de conhaque, eu o acompanho. (virando-se displicentemente para Bia): Traga-me uma taça, amor.

E os três juntaram-se para tomar o conhaque, e logo em seguida, almoçaram o fettuccini ao forno servido por Bia, acompanhado de um delicioso vinho tinto. Roberto não poupou elogios à comida. Carlos observava os dois, e percebia que estava certo: havia algo acontecendo ali. Mesmo assim, conseguiu disfarçar até o término do almoço, quando Roberto finalmente despediu-se, ao final da tarde, após o futebol que os três assistiram juntos no tapete da sala. No segundo tempo, Bia adormeceu e descansou a cabeça no ombro do marido, mas suas pernas foram parar em cima das pernas esticadas de Roberto. Os dois amigos se entreolharam, mas nada disseram.

Quando Roberto saiu, já escurecia. O casal despediu-se dele à porta de casa, entrando quando o carro virou a curva e desapareceu. Bia tinha um brilho estranho no olhar, que ela alegou ser por causa do vinho, e do cansaço. Carlos ajudou-a a retirar a mesa e secar a louça do almoço. Quando terminaram, ele segui-a até o quarto, abraçando-a por trás. Ela beijou-o, mas abriu os braços dele com as mãos, livrando-se do abraço. Disse estar cansada. Passaria o começo da noite descansando na cama, assistindo a um filme. 

Carlos enfureceu-se:

-Ora, por que? Você passou o dia todo se oferecendo para o Roberto. Agora vai dizer que não quer ficar comigo?
-Como assim? Não sei do que você está falando (mas ela sabia).

Carlos não se conteve:

-Pensa que eu sou idiota, Bia? Pensa que não percebi as trocas de olhares, os toques 'acidentais' de mãos quando você o serviu? Por que é tão difícil admitir? Você se sente atraída por Roberto, e ele por você!

As coisas ditas daquela maneira tão simples fizeram um sino soar alto na cabeça de Bia. De repente, ela mesma sentiu que não conseguiria negar, caso ele insistisse, e achou melhor sair pela tangente:

-Olha, estamos cansados, bebemos demais e eu estou com dor de cabeça. Não vamos dizer nada que possa fazer com que nos arrependamos mais tarde, tudo bem? Amanhã, se for o caso, a gente conversa.

Ele se não deu por convencido. Pisando duro, voltou para a sala de estar, e minutos depois, Bia escutou a porta da frente bater com força. Carlos já tinha tido crises de ciúmes antes, mas daquela vez, ele tinha razão, e ela sentiu-se culpada.

Bia estava na estufa, molhando as flores. De repente, percebeu a presença de alguém atrás dela, e ao virar-se, deu com Roberto olhando-a. Ela sorriu, tentando soar casual ao cumprimentá-lo, mas ele caminhou até ela e selou-lhe  a boca com um beijo apaixonado e demorado...
ela viu-se correspondendo-o com sofreguidão, passando os braços em volta dele e apertando-o com força ao encontro do corpo dela, que pulsava. Quando se separaram, ela ainda perguntou a ele:

-E agora, o que? O que vamos fazer?

Quando acordou, viu que Carlos já chegara e dormia ao seu lado. O sonho tinha sido muito real, e seu coração aos pulos fez com que ela se levantasse e fosse ao banheiro tomar um tranquilizante. 


(continua...)




Um comentário:

  1. História linda Ana, tal qual a vida, cheia de surpresas, estou ansiosa pelo final, obrigada, abraços carinhosos
    Maria Teresa

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