sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O LAR DE OFÉLIA - PARTE IX









O LAR DE OFÉLIA - PARTE IX


Dois dias depois, Sarah chegava à mansão. Ao escutar a campainha, Ofélia recapitulava a conversa que tinha tido com Anselmo, para que não se esquecesse de nenhum detalhe. Ele lhe dissera que mostrasse a casa para Sarah, e que ficasse algum tempo conversando com ela no topo das escadas que ligavam os dois andares. Ela perguntou a Anselmo o que precisava ser feito, mas com medo da resposta, porém ele assegurou-lhe que ela não precisava fazer nada, a não ser mostrar a casa. 

Ofélia foi receber Sarah. Sentia-se desconfortável. Um pequeno sentimento de medo apertava suas entranhas, mas ela precisava confiar em Anselmo. Ao entrarem na casa, Sarah começou a caminhar, parando diante de obras de arte que achava que podiam valer um bom dinheiro, e dizendo que ficaria com todas elas - ou não haveria acordo. Ofélia concordava com todas as suas condições, ou fingia que concordava. Admirou a casa, achando-a muito bonita, e pensou no quanto poderia lucrar com ela após a venda. 

-Mas vou deixando logo claro que vou procurar por outra firma de corretagem. Não quero ser roubada pela firma de vocês. 

Ofélia ignorou a ofensa. 


-Gostaria de ver o andar superior?

Sarah pegou a bolsa que tinha deixado sobre a poltrona, dizendo:

-Não. Na verdade, o que eu vi já foi o suficiente. Fico com ela. Mas não será tudo. Quero também o apartamento na praia e a casa que pertenceu ao seu pai. E o carro, é claro.

Ofélia sentiu o sangue esquentar, e o rosto ficar vermelho. Engoliu em seco, o que fez com que Sarah a olhasse com ainda mais mordacidade no olhar ao ver que conseguira seu intuito: irritar Ofélia. Mas Ofélia respirou fundo e engoliu a raiva; não podia estragar o plano.

-Insisto para que você veja o andar superior. Afinal, não quero que diga depois que eu a enganei. Quero que veja com seus próprios olhos que a casa está em ótimas condições. 

Após considerar o que a outra dissera, Sarah concordou:

-Ok, então vamos até lá. Você vai na frente. 

As duas subiram os degraus, e Sarah pode ver mais de perto o maravilhoso lustre de cristal que pendia do teto da sala de estar. Achou tudo maravilhoso, e até considerou ficar vivendo na casa por algum tempo, mas sabia que não poderia pagar pelos altos impostos que uma casa como aquela traria. Lamentou por aquilo, sentindo ainda mais ódio e inveja que pessoas ricas como Ofélia pudessem desfrutar daquilo tudo sem o menor esforço. 

Viram todos os cômodos em silêncio. Sarah estava adorando a casa, mas o sentimento de ódio e inadequação àquele estilo de vida que ela jamais teria, eram bem maiores que o amor pela casa.  Finalmente, ela disse:

-Já vi o suficiente. Amanhã vou até o escritório para pegar a escritura, e espero que a papelada esteja pronta e a contento, pois meu advogado estará comigo para examinar os documentos. 

Na verdade, ela não tinha nenhum advogado; pediria a um conhecido, a quem pagaria, para fazer o papel de advogado, mas ninguém saberia de nada, e então não fariam nada para enganá-la, sabendo que haveria um advogado presente. 

Chegaram ao topo da escadaria, e Ofélia parou. Olhou para baixo, e lembrou-se do tombo que matara seu pai. Sentiu-se tonta, e segurou-se no corrimão. Sarah percebeu, e por um minuto, teve pena dela:

-Então foi aqui que tudo aconteceu... você pode não crer em mim, mas eu sinto muito. Eu realmente amei seu pai.

Ofélia viu que ela poderia estar dizendo a verdade, mas nada respondeu. Fez sinal para que ela começasse a descer as escadas, e Sarah estendeu o pé adiante. Ofélia sentiu seu coração acelerar, pois finalmente compreendeu o que estava para acontecer. Lágrimas vieram aos seus olhos. Ela seria incapaz de assassinar alguém! Anselmo não podia pedir a ela que fizesse aquilo. 

O pé direito de Sarah tocou o primeiro degrau. Ofélia notou que ela usava sandálias prateadas de saltos muito altos. Sarah segurava-se com firmeza no corrimão. Ela chegou ao segundo degrau, descendo-o sem dificuldades. Ofélia começou a descer atrás dela, devagar, tentando manter a distância de pelo menos um degrau entre as duas. Foi no terceiro degrau que Ofélia viu o pé de Sarah vacilar, escutou o salto quebrar-se e o corpo dela projetar-se para o lado do corrimão. Ela ainda tentou segurar-se, mas o desequilíbrio fez com que, automaticamente, ela retirasse a mão do corrimão onde se segurava, agitando-a no ar a fim de recuperar o equilíbrio, o que só fez com que ela caísse para fora das escadas e se estatelasse no piso da sala de estar rapidamente. 

Ela nem teve tempo de gritar. 

Ofélia ficou parada na escadaria, tentando conter as batidas do coração que parecia que ia sair pela sua boca. Olhou para baixo: Sarah não se movia. Um filete de sangue escorria pelo piso onde sua cabeça estava apoiada. 

Ela gritou:

-O que você fez, Anselmo? E o que eu faço agora?


A campainha tocou, aumentando o seu pânico. Anselmo não respondia, e ela estava cada vez mais desesperada. De repente, a coisa mais certa a se fazer parecia ser abrir a porta e relatar para quem quer que estivesse ali o que tinha acontecido. E foi o que ela fez. Ao ver Bruno à porta, ela o abraçou com desespero, arrastando-o para dentro da casa até o local da cena, onde o corpo de Sarah jazia de bruços. Ao ver a moça deitada no chão, ele levou um choque, mas conteve-se e ajoelhou-se junto a ela, checando sua respiração:

-Ela ainda respira. Vamos chamar uma ambulância! 

Naquele instante, Sarah gemeu:  "A culpa... não foi dela."

(continua...)








5 comentários:

  1. Episódio emocionante...


    Momentos...De Fé...

    Beijo e um excelente fim de semana.

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  2. Olá querida Ana! Fiquei feliz com sua visita e o desejo em participar da BC. Seja bem vinda, será um prazer ter você participando com seus escritos que são majestosos!

    Parabéns pela continuação do conto. Lindo demais! Abraços, fica na paz.

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  3. Deixando o convite do Poetizando

    CONVITE PARA O POETIZANDO E ENCANTANDO
    Embasada pelo pensamento do grande Mario Quintana, chego mais uma vez com o convite para mais uma edição do Poetizando que diz,
    “A arte de viver é simplesmente a arte de conviver... simplesmente, disse eu? Mas como é difícil!”
    Mesmo no mundo virtual a convivência as vezes é difícil, mas com as nossas poesias essa convivência amiga tem acontecido com muito respeito, carinho e atenção para com todos que participam desta BC, com composições poéticas ou comentando.
    Tanto que, já estamos na 49ª edição.
    Seja mais uma vez bem vinda! Acabei de postar, para que todos fiquem a vontade para escolher a imagem para a temática.
    Abraços, tenha um fim de semana feliz e abençoado, com muita inspiração!

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  4. Olá Ana querida


    Cada capítulo fica mais interessante...

    Beijos
    Ani

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