Dizem que ninguém volta com todas as partes que tinha quando se foi. E também que quem volta, traz consigo outras partes agregadas pelo caminho. Assim pensava Suzanna enquanto olhava a paisagem que passava rapidamente pela janela do trem. Ela imaginava o que teria mudado durante todos aqueles anos durante os quais vivera fora de sua cidadezinha natal, depois da morte dos pais. Pensava se a casa fechada teria resistido ao abandono – casa é igual a gente, também morre de tristeza e solidão.
Seu tio Raul prometera tomar conta de tudo para ela enquanto ela estudava na cidade grande para tornar-se advogada. Mas mesmo com todos os cuidados, a casa era antiga: resistira?
Finalmente, depois de pegar a chave com o tio, Suzanna parou em frente à porta da casa. Tinha quase certeza de que ela estava feliz em revê-la. Quanto a Suzanna, tinha medo do que aconteceria quando a casa descobrisse que estava ali para despedir-se: iria vende-la. Naquela tarde, ela sentou-se no alpendre, xícara de café na mão, olhando a chuva cair e lembrando de muitas outras tardes como aquela, quando ela sentia que cabia perfeitamente naquela casa.
Aos poucos, sentia que a casa também se despedia dela; afinal, tornara-se uma estranha. Já não via magia naqueles cômodos, só saudades e tristeza. As partes que trouxera não cabiam entre aquelas paredes, e as partes que deixara para trás tinham se perdido para sempre.
Suzanna levantou-se do alpendre e preparou-se para sua última noite naquela casa e naquela cidade. Lá fora ainda chovia. Em alguma parte dentro dela, choveria sempre. Na parede do quarto, em uma fotografia amarelada, alguém zelava pelo seu sono.
Lindo conto, meus parabéns.
ResponderExcluirArthur Claro
http://www.arthur-claro.blogspot.com
Como sempre adorei ler. Obrigada
ResponderExcluirQue todos tenhamos a noção de que o perigo nos prossegue e espreita em cada esquina. Feliz Natal
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É OUTRA VEZ NATAL...
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Beijos festivos
💝Que nesta quadra natalícia.
ResponderExcluirSomente espalhe sementes de luz e de amor.
Um abraço apertadinho, Ana.💝
🎀Megy Maia🎀
Bom dia, Ana.
ResponderExcluirAs suas narrativas são sempre muito belas e reflexivas.
A meu ver, os espíritos se desencarnam e podem voltar, porém, mais depurados, num constante ciclo de renovação no afã das vinhas somente do bem, paras as quais fomos criados.
Meu carinho e meus aplausos.
Oi Ana gosto de ler o que você escreve, sempre envolvente, fiquei com saudades da casa de Suzana e pensando o quanto é difícil para alguns romperem com sua historia, para outros é muito fácil, e é assim a vida.
ResponderExcluirFeliz 2021,beijos.
Such a beautiful short story, that I totally identified with. I have always felt that our houses have characters, thoughts and emotions too.
ResponderExcluirOh I so enjoyed reading this, Ana...thank you so much!😊😊
Thank you, also, for the lovely comment you left in my newest post...it really touched my heart!💖
Have a super day...and stay safe, dear friend!
Hugs xxx
Olá Ana!
ResponderExcluirPara uns e tão fácil partir!
Para outros nada tem significado!
Cabe a cada coração decidir!
Beijinhos!
Megy Maia🌹💗🌹