segunda-feira, 12 de agosto de 2013

AMOR IMPOSSÍVEL - FINAL




Bruno estava na estação , de malas prontas, com um olhar ansioso, que só se tranquilizou quando viu Camila correndo para ele. Tinham tanto a dizer um ao outro, e tão pouco tempo para fazê-lo. Decidiram ficar de mãos dadas, se olhando longamente, prevendo as enormes cartas de amor que escreveriam um para o outro, os telefonemas , as férias. Talvez, com o tempo, seus pais até os deixassem sair sozinhos. 
Quando ele entrou no ônibus e este começou a se movimentar, ela o acompanhou correndo até perder o fôlego, triste por ele estar partindo, mas com o coração aquecido pelo que viria depois.


E os meses se passaram. As cartas se acumulavam em suas gavetas, cartas que eram lidas e relidas tantas vezes que tornavam-se amassadas , cheias de marcas de ketchup ou mostarda. Pelo menos duas vezes por semana falavam-se por telefone, longas ligações , e sempre tinham muito a contar. As férias chegaram, e Bruno estaria vindo para visitá-la dentro de três dias. 
Marta e Claudio acharam que tinham tomado a decisão correta, vendo a felicidade da filha estampada no rosto, e sentindo que a confiança dela neles aumentara consideravelmente. Conversavam muito mais, e ela lhes contava sobre seus planos , coisa que jamais fazia . Por isso, quando chegou o dia da chegada de Bruno, eles concordaram que ela fosse encontrá-lo sozinha no parquinho ( com a condição de logo voltarem para a casa ) , o que ela concordou imediatamente. Teve tempo de telefonar para Bruno e dar-lhe a boa notícia.

- Adivinha! Meus pais concordaram da gente se encontrar sozinhos! 
- Jura? Mas você é mesmo uma bruxinha. Consegue tudo o que quer!
- Que horas você chega?
- Acho que antes do que eu pensava. Vou pegar carona com um amigo, então acredito que lá pelas três da tarde eu estou chegando por aí.
- Então vá direto para o parquinho, eu te espero lá. Não vejo a hora de te ver...
- Nem eu. Olha, Camila, tem uma coisa que eu preciso te contar. Uma coisa que já aconteceu há algum tempo, mas não tive ainda coragem de te falar.

Mil coisas passaram pela cabeça dela. Será que ele tinha ficado com outra?

- Olha, Bruno, se for alguma coisa que você fez por aí, eu não quero saber.
- Como assim?
- Sei lá, se de repente você ficou com alguém, não aguentou, pintou a vontade, e aconteceu... eu prefiro não saber, entende? Prefiro que você não fale comigo. 
- Você está certa... mas não é nada disso, sua boba. Pintou uma vontade sim, mas de dizer que eu te amo...
- Puxa, você nunca falou isso antes!
- Mas resolvi falar agora. Pensei em te dizer olhando nos olhos, mas bateu a vontade de te falar agora, só para fazer você me esperar mais feliz.
- E pode Ter certeza: Surtiu efeito!
- Agora tenho que desligar. Meu amigo tá chamando para a gente ir. Três horas!
- Três horas!




Só depois que desligou o telefone, ela se deu conta que não tinha dito que o amava também. Mas diria pessoalmente.

As duas horas, Camila já estava impaciente, andando de um lado para o outro. Às duas e quarenta, despediu-se dois pais e foi correndo para o parquinho. Seu coração batia descompassado, e seu estômago dava voltas. Um friozinho gostoso de antecipação corria pela sua espinha. 

Três horas. Ele estaria chegando a qualquer momento. Pegou um espelhinho na mochila, espalhou batom sabor morango pelos lábios. Iria beijá-lo até deixá-lo sem fôlego.
Andava de um lado para o outro, sentava-se no banco do parque, olhando as crianças que corriam umas atrás das outras. Três e quinze. Ele estava atrasado, e para esperar o tempo passar, ela foi jogar bola com algumas meninas que brincavam ali por perto. Quando olhou novamente o relógio, já eram três e trinta. “O melhor da festa é esperar por ela”, pensou. Logo, as meninas se despediram de Camila e foram para suas casas. Três e quarenta e cinco. Sentada no banco, um pouco suada devido à correria, Camila torcia as mãos no colo, estalava os dedos. Quatro horas. Quatro e cinco. Quatro e dez... o céu estava ficando escuro, e nuvens pesadas se aproximavam no horizonte. Abriu a mochila e viu que tinha esquecido o guarda chuva. Começou a sentir frio. Uma gota grossa caiu bem na ponta de seu nariz, seguida por outra, e por outras. Logo estava chovendo pesadamente. Ela permanecia sentada no banco do parque, já que não havia nenhum abrigo por perto. Num instante, pingava água de seus cabelos encharcados, e o frio aumentou.

Alguém vinha chegando numa capa de chuva preta, lá longe, andando bem devagar. Era um homem. 
Camila levantou-se, tentando divisar a silhueta de Bruno. Mas conforme ele se aproximava, viu que era seu pai. Quando ele chegou mais perto, notou que a expressão no rosto dele era fechada, como ela nunca tinha visto antes. Um mau sentimento apossou-se dela, mas ela não conseguia se mover. 

Cláudio parou diante da filha, abrindo os braços para que ela pudesse aninhar-se neles. Sem nada dizer, ele correu para o pai e abraçou- o . Cláudio deixou-a ficar assim por alguns instantes , até que segurou seu rosto entre as mãos e disse as tristes palavras que o haviam trazido até ali:

- Querida, eu... você vai Ter que ser forte.
- Não. Nãããão! Eu não quero ouvir!

Camila empurrou o pai e afastou-se dele, virando-lhe as costas e tapando os ouvidos. Bruno não a queria mais. Seu pai mudara de ideia e não deixaria mais que eles namorassem. Os pais dele o proibiram. 

- Não, não, não!!! 
- Camila, olhe para mim, filha...
- Pai, me deixe em paz!
- Camila, ouça!...

Ela só gritava e tapava os ouvidos. Claudio segurou-a pelos ombros , sacudindo-a violentamente. Ela estava histérica, totalmente fora de controle, e por isso Cláudio respirou fundo e deu-lhe um tapa no rosto. Na mesma hora ela se acalmou e ficou fitando-o com os olhos arregalados, respirando apressadamente.
Ele esperou até que sua respiração voltasse ao normal. 

- Houve um acidente, um terrível acidente.
- Bruno morreu!
- Bruno morreu.

Enquanto ela desfalecia em seus braços, Cláudio segurou-a no colo e sentou-se no banco, embalando-a como se ela tivesse voltado a ser um bebê. Depois, tendo-a ainda em seus braços, deitou sua cabeça em seus ombros e levou-a para casa. Sabia que tinham um longo inverno tempestuoso pela frente.



14 comentários:

  1. Mas sempre virá novas estações, beijomLisette.

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  2. Aconteça o que acontecer, nunca deixe de acreditar em um novo amanhecer depois de uma longa noite e que as sementes da primavera já estão plantadas só esperando o tempo certo para germinar. Beijo grande

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  3. Não acredito...eu estava desesperada procurando qualquer histórinha o mais água com açúcar possível para acalmar esse meu coração tempestuoso, que a algum tempo deixou de acreditar no amor, aí começo a ler essa história e penso que vou conseguir me acalmar tempo o suficiente só pra dormir. Mas parece que finais felizes não existem mesmo.

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  4. Poxa , não queria que o Bruno morresse. Eles mereciam ter um final feliz :(

    cancoeseflores.blogspot.com.br

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  5. Que história incrível! Realmente emocionante 😢

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  6. Não creio a historia começou otima para acabar com ele morto isso nao é justo comecei alegre agora to triste :(

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  7. Que triste o final.. Me fez chorar e ao mesmo tempo querer continuação.. Pena que nem sempre existe final feliz

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  8. Ele morreu ou não? Pq tem uma parte que diz que os pais dele não o deixou ficar com ela.. Ou talvez ela estivesse pensando assim..

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  9. Veja uma história aqui: http://silentforever.simplesite.com/

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  10. Ana, porque cê matou o Bruno? Ah! não.

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  11. Essa é Uma Hitória Incrivelmente Bonita´Eu Adorei Só Não Gostei Que Ele Morreu Não Era Para Ser Um Amor Tão Impossivel Assim Fiquei Chateada e Ao mesmo Tempo Com Raiva Porque Nao Deveria Acabar Assim :'(

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  12. q dó da menina, ficou lá esperando ele a tarde inteira, passaram por toda essa dificuldade só para no final ele morrer.mas agora q se passou trs anos´poderia fazer uma nova história dando continuação, né?

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  13. 4 anos quase, continuem a historia sei lá, ou outra parecida

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    1. Pois é... mas não vai dar, pois ele morreu...
      Obrigada, gente. O final desta história é o que tinha que ser. Quando a escrevi, eu era só uma adolescente. Talvez hoje eu desse a ela um final diferente, não sei...

      Grata pelas leituras e comentários!

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