Magda telefonou aos tios, e em dez minutos ambos chegaram ao clube. Cláudio parecia furioso, enquanto Marta tentava acalmá-lo, apesar de também estar desesperada. Estavam os quatro conversando no jardim, tentando decidir o que fazer, quando uma porta se abriu e Camila e Bruno saíram por ela, abraçados. Sem se darem conta do que estava acontecendo, ambos pararam para se beijar. Marta, Claudio, Magda e Marina os observavam, estupefatos. Marta via que algo nas feições da filha tinha mudado.
Ambos conversavam em voz baixa, enquanto se encaminhavam de volta para o salão de mãos dadas. Foi quando viram Cláudio, furioso, caminhando na direção deles seguido por Marta e as duas meninas. Os dois pararam, largando as mãos, sem saber o que fazer. Bruno empalideceu. Tudo foi muito rápido: Claudio agarrou Bruno pela gola da camisa e ia dar-lhe uma surra, quando Marta , quase gritando em seu ouvido, pediu que ele evitasse um escândalo, já que outras pessoas estavam se reunindo à volta deles.
Voltando à razão, Cláudio puxou Camila para seu lado e disse a Bruno, com a voz contida:
- Se você fez alguma coisa com minha filha, eu ponho você na cadeia.
- Pai, a culpa foi toda minha, eu que levei ele...
Marta mandou que Camila se calasse, dando-lhe uma bofetada. Cláudio mal podia acreditar no que estava acontecendo. Magda e Mariana permaneciam mudas de espanto. Bruno falou:
- Eu adoro sua filha. Se ela quiser, eu caso com ela.
- Casar!
Cláudio soltou uma gargalhada.
- Você sabe, seu idiota, que ela tem quatorze anos?
- Sei. Mas a gente se ama, o que importa a idade?
Camila tentou interferir e correr para o lado de Bruno, mas Marta segurou-a firmemente, e foi andando com ela em direção ao carro, enquanto Camila gritava e tentava se soltar . Cláudio segurou Bruno pela gola da camisa mais uma vez , e aproximando bem seu rosto do dele, falou:
- Minha conversa agora é com seu pai. De homem para homem. Não me entendo com moleques.
- Eu não sou nenhum moleque. Estou disposto a reparar qualquer coisa que eu tenha feito que prejudique a Camila.
- Você foi longe demais. A única coisa que você poderia Ter feito para não prejudicar a Camila, seria Ter ficado longe dela.
- Eu tentei, eu juro!
Bruno agora chorava descontroladamente. Apesar da raiva que estava sentindo, Claudio não pode deixar de Ter pena do rapaz e soltou- o .
- Amanhã de manhã vou até sua casa conversar com seus pais. Você vai ter que se afastar de minha filha. Senão, estou disposto a processá-lo por corrupção de menores. E reze, reze muito para que ela não tenha ficado... ficado...
Claudio não conseguiu completar sua frase. Só a ideia de sua filha de quatorze anos grávida, era o suficiente para fazê-lo pensar em morrer.
Bruno pensou em dizer-lhe que tinham usado camisinha, mas achou que isso só iria piorar a situação, já que as mesmas tinham sido compradas por Camila.
Fim da festa. Todos foram embora.
Durante a conversa com os pais de Bruno, ficou decidido que Bruno iria deixar a cidade para estudar .
Magda concordou em não contar aos tios que Mariana estava envolvida em tudo, já que Camila não tinha contado nem para sua melhor amiga o que pretendia fazer.
Uma semana depois, quando todos estavam mais calmos, Claudio e Marta decidiram Ter uma conversa com a filha. Camila estava em seu quarto, lívida de dor. Passara a semana toda chorando, e não quis receber Mariana quando esta lhe procurou. Claudio concordou com Marta quando esta lhe pediu que a deixasse falar com a filha a sós. Teria de contar a ela que Bruno viajaria no dia seguinte.
- Filha, posso entrar?
- Me deixe sozinha, mãe.
- Por favor, tem algo que você precisa saber.
Camila abriu a porta do quarto e deitou-se de bruços na cama, olhando a paisagem desolada lá fora. Chovia muito, uma chuva triste , que formava correntezas pelo meio-fio.
- Camila, um dia você vai entender por que estamos fazendo isto.
- Fazendo o que? Acabando com minha vida?
Marta suspirou. Queria abraçar a filha, mas sentia-a tão distante, que se deteve.
- Bruno vai embora amanhã.
- Embora?
Lágrimas de frustração encharcavam o rosto de Camila.
- Vocês não entendem... ele não teve culpa de nada, fui eu... eu o provoquei, eu propus que namorássemos escondido, eu o arrastei para dentro daquele quarto, lá no clube. E quer vocês gostem, quer não, foi o dia mais feliz da minha vida.
- Conheço você o suficiente para saber que está dizendo a verdade. O que eu não quero... o que eu e seu pai não queremos é que você destrua sua vida, que faça coisas para as quais nem você e nem ele estão prontos para assumir. Olhe bem, Bruno ainda é um menino! Você gostaria que ele interrompesse seus estudos, assumisse responsabilidades , e depois, olhasse para trás e acusasse você de tê-lo feito desistir de seus sonhos?
- Mas os sonhos dele incluíam a mim, mãe...
Camila soluçava.
- A gente só queria ficar juntos, namorar, como qualquer casal da nossa idade. Se você e papai tivessem concordado, nada disso teria acontecido.
- Admito que erramos. Mas todo mundo pode errar quando tenta defender alguém que ama.
- Se sabem que erraram, por que não deixam a gente ficar juntos? Por que papai fica ameaçando o Bruno de denunciá-lo se ele não for embora?
- Camila, agora que vocês já transaram a primeira vez, seria impossível que não houvessem outras vezes. Você ainda não é uma mulher feita. Estamos tentando evitar o pior, para vocês dois.
Camila não respondeu. Enxugou o rosto com o punho da blusa.
- Filha, eu e seu pai decidimos que, se quando ele se formar ainda quiser namorar você, a gente não vai impedir.
- Mas isso vai levar no mínimo quatro anos!
- Quatro anos nos quais vocês poderão escrever um para o outro, trocar telefonemas, fotos...
- Desde que a gente não se toque, não é?
- Quando ele vier para as férias, ele pode visitá-la. Mas aqui em casa. Diante de mim e de seu pai.
- E você acha que ele vai concordar com uma coisa dessas? Você acha que um homem vai ficar sem tocar uma mulher durante quatro anos?
- Filha, ele já concordou.
Camila virou-se na cama para encarar a mãe.
- Como puderam pedir isso a ele?
- Não pedimos, ele nos propôs. Depois disto, entendemos que ele realmente gosta muito de você.
Um leve sorriso insinuou-se no rosto da menina. Ela sentou-se na cama.
- Isso é verdade, mãe?
- Verdade verdadeira. Tanto que, nesse exato momento, ele está esperando por você na estação para se despedir. Mas vá correndo, que o ônibus dele sai em menos de uma hora.
Camila saltou da cama, abraçando a mãe. Neste momento, Claudio entrou no quarto e ela pulou no colo dele, que a abraçou sorrindo. Como um furacão, Camila saiu de casa e bateu a porta, sem nem ao menos se lembrar de pegar um guarda chuva.
(continua)
muitoo bom!
ResponderExcluirExcelente história. Muito bem escrita.
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