quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O ÚLTIMO FINAL DE SEMANA - PARTE II




O Último Final de Semana – Parte II


Fernando pensava nas vezes em que percorrera aquela mesma estrada, há anos. Em sua mente, imagens alegres de um grupo de jovens brincando na praia ou fazendo luaus durante as noites mornas de verão. “Bons tempos aqueles,” pensou. Sua única preocupação era passar nas provas da faculdade. Até que se apaixonou por Carol. Manteve aquela paixão tão bem escondida dentro dele, que ninguém jamais desconfiou que ela existisse. Na verdade, ainda a carregava bem viva dentro de si, apesar dos muitos anos e das muitas mulheres que passaram por sua vida (mas jamais ficaram).

Lembrava-se do quanto gostara, sinceramente, de Rodrigo, e de como a amizade entre os dois cresceu naturalmente. Rodrigo era uma das pessoas mais encantadoras e divertidas que ele jamais conhecera. Inteligente, bem disposto, alegre, simpático. O tipo de pessoa que sabia divertir-se, e sempre conseguia tudo o que queria das pessoas através do seu magnetismo pessoal e poder de persuasão – coisa pela qual Fernando sentia-se muito atraído e curioso, mas que algum tempo depois pareceu-lhe, cada vez mais, um ardil. 

Antes mesmo de conhecer Rodrigo, ele já era apaixonado por Carol, embora nunca tivesse tido coragem de declarar-se, pois achava que havia poucas chances de que sua nova amiga se apaixonasse por ele. Era uma intuição que tinha. Até que um dia Rodrigo (naquela época, eles dividiam um apartamento) chegou em casa dizendo que conhecera uma menina muito linda chamada Carol.  Ao ouvir aquilo, Fernando compreendeu que nunca mais teria qualquer chance com Carol! Conformado, pensou que Rodrigo e Carol eram perfeitos um para o outro: ambos lindos, alegres, maravilhosos... se antes tinha poucas esperanças, naquele momento não tinha mais nenhuma. Mesmo assim, continuou a amizade com ambos, sem ressentimentos, pois e admirava adorava os dois. E cada vez mais, apaixonava-se por Carol. 

Viver com Rodrigo não era muito fácil, pois ele frequentemente dizia que teria que contribuir com menos dinheiro para as despesas, embora aparecesse sempre com roupas novas e caras. Às vezes pedia algum dinheiro emprestado. Muitas vezes, esquecia-se de devolver, e quando Fernando o cobrava, sempre prometia que pagaria tudo assim que seus pais mandassem sua pensão. Fernando não sabia que os pais de Rodrigo haviam morrido há muito tempo, quando ele ainda era criança, e que sua única parenta ainda viva, era uma tia, a dona da casa de praia, que ninguém jamais vira. Fernando descobriu tudo apenas quando atendeu o telefonema de um advogado procurando por Rodrigo; ele dizia que sua Tia Helena havia falecido, e que deixara-lhe uma herança. Ao perguntar pelos pais do amigo, o advogado informou-lhe que ambos haviam morrido em um acidente quando Rodrigo tinha apenas treze anos. Na época do telefonema, Rodrigo e Carol já estavam morando juntos.

Fernando foi procurar o amigo para informa-lo da morte da tia; ele recebeu a notícia com um leve sorriso de alegria sob um bloco de indiferença. Ao ser indagado do porquê de nunca ter dito que seus pais estavam mortos, Rodrigo encolheu os ombros e disse: “Ser órfão faz com que eu tenha mais sucesso com as gatas. Elas adoram um homem desamparado.” A maneira e o tom de voz com que Rodrigo dissera aquilo, causou arrepios em Fernando! Achou que era melhor contar toda a verdade a Carol, e ele o fez; após mostrar-se chocada por alguns instantes, ela respondeu que com toda certeza, Rodrigo tivera seus motivos para manter segredo. Foi quando Fernando percebeu que ela estava tão apaixonada por ele que não tinha importância o que qualquer um dissesse. 
Os dois continuaram amigos, e continuaram saindo juntos. Muitas vezes, Rodrigo deixava Carol sozinha e ambos iam para boates, onde ele se divertia com outras mulheres. Fernando não gostava daquele papel de cúmplice nas infidelidades do amigo, mas não conseguia dizer não para ele por desejo de não ferir Carol, e encobria as saídas do amigo. Carol jamais procurou-o para confirmar nada, mas se ela o tivesse feito, ele já havia decidido que seria o álibi perfeito. Mas quando ele soube que Rodrigo estava saindo com Gina, a melhor amiga de Carol, ficou indignado! Tentou conversar com Rodrigo sobre o assunto, mas ele disse que estava apenas se divertindo, e que não pretendia ter nada sério com ela. Eles discutiram, e Rodrigo disse: “Agora eu percebo tudo: você está apaixonado pela Carol!”

Fernando não pode negar. Sentiu-se envergonhado. Rodrigo começou a rir alto. 
Eles estavam em um bar naquela noite, e Gina tinha ido ao toilete. Rodrigo pediu ao amigo que mantivesse segredo. Fernando disse que se ele não terminasse tudo com Gina naquela mesma noite, ele contaria tudo para Carol.

As feições de Rodrigo mudaram totalmente, e o rosto amigo e alegre que ele sempre conhecera, transformou-se em uma máscara de puro desprezo. Ele retrucou: 

“Você tem inveja de mim, Fernando. Sempre teve, e por isso se aproximou de mim e fez questão de ficar meu amigo: para admirar-me mais de perto, para ver se conseguia aprender a ser um pouco como eu! Sempre quis ter o meu rosto, o meu corpo, a minha vida, as minhas roupas. Pensa que não percebi? E sei também que você está... ‘apaixonadinho’ pela Carol!”

Atônito, não apenas pelo efeito devastador do que o amigo dissera, mas porque ele mesmo sabia que no fundo era tudo verdade, Fernando tentou negar:

“Que absurdo! Só não quero que você machuque a Carol, só isso! Cara, ela e a Gina são amigas desde os tempos de escola!”

Rodrigo deu um sorriso de puro escárnio:

“Você não é nada, Fernando, esse seu jeitinho de cara certinho não atrai ninguém. Você é frouxo. Você não saberia como comer uma mulher como a Carol. Não é homem o suficiente para ela, enquanto eu sou, para ela e para muitas mais! E vou continuar sendo. Nem adianta ir correndo contar tudo para ela feito um maricas, porque não importa o que você faça, ela está de quatro por mim – literalmente, eu diria, e aposto que você gostaria de ver a cena (fez um gesto como se estivesse fazendo sexo com Carol). Meu negócio com a Carol vai acabar quando eu decidir, entendeu? Acho até que você não passa de um virgenzinho... ui! Quem sabe, seja gay? (Rodrigo imitou os gestos de um gay). Você perdeu, Fernando. Sabe por que? Porque você é um perdedor nato.

Naquele momento, Gina voltou para a mesa, e Rodrigo beijou-a apaixonadamente. Fernando saiu do bar e foi direto para o apartamento de Carol, contando-lhe tudo. Ela atendeu a porta de camisola, pronta para ir deitar-se. Vê-la daquele jeito atiçou nele a paixão e o desejo, e Fernando contou com prazer mórbido sobre onde Rodrigo estava naquele momento, e com quem. Enquanto ela sentava-se no sofá da sala, segurando a cabeça entre as mãos, chorando muito, ele se arrependeu; mas quando ela aceitou seu ombro amigo, deixando-se ser abraçada por ele, Fernando imediatamente achou que tinha feito a coisa certa. Beijou-lhe a cabeça fraternalmente, mas logo perdeu o controle, e passou a beijar-lhe as lágrimas, os lábios bem de leve (ela não tentou desvencilhar-se), e abraçou-a mais forte, fazendo com que o corpo dela ficasse totalmente envolvido pelo seu ao deitá-la no sofá; esperou um instante antes de continuar, para ver se ela o repeliria, e como ela não o fez, ele continuou deitado sobre ela, agora deixando as mãos deslizarem de leve sobre seu corpo, aumentando a intensidade das carícias aos poucos. Ela chorava enquanto abriu a camisola e entregou-se a ele.

Quando terminaram, Fernando pensou que a tinha ganho para sempre. Mas ela repeliu sua tentativa de fazerem amor novamente, dizendo:

“Por favor, Fernando. Vá embora.”

“Mas eu pensei que...”

“Vá. Apenas vá.”

“Você não vem comigo?”

Ela pareceu confusa, e olhou para ele entre as lágrimas:

“Como?! Ir com você? Para onde? Por que?”

Fernando não conseguia falar. Percebeu que aquele não tinha sido um momento de paixão. Tinha sido pura vingança. Ela não tinha a menor intenção de deixar Rodrigo. E mesmo que o deixasse, jamais ficaria com ele. Qualquer homem que estivesse ali em seu lugar teria obtido o que ele obtivera naquele sofá. Tinha sido apenas uma vingança perpetrada por um coração ferido, mas pronto a perdoar. Ele catou suas roupas no chão e vestiu-se. Ainda olhou para trás antes de sair, mas Carol não pediu-lhe para ficar.  Humilhado, ele saiu. 

Agora estava naquela estrada, voltando à casa onde tinha tido tantos momentos felizes... a casa de Rodrigo, a casa das reuniões da galera da faculdade. No e-mail, Rodrigo praticamente implorava-lhe que fosse. Pensou nos momentos em que a amizade deles tinha parecido sincera. Por causa daqueles momentos, ele decidiu ir.




2 comentários:

  1. Uma intrincada historia de amor bem contada. Gostei do li.

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  2. Agora a coisa começou a enrolar e ficar mais atraente.
    Estes triângulos colocam fogo na hipotenusa, rsrs
    Muito bom Ana, vamos seguindo e adorando ler.
    Volto para ler a nova parte.
    Valeu amiga.
    Voce brilha.
    Um abração.

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