terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Meu Primeiro Namorado - FINAL







22/02/14


Todo mundo me diz que estou errada, como se estar errada fizesse com que um sentimento desaparecesse de repente de dentro de alguém. Minha mãe só fica repetindo: "De que enrascada você se safou!" Fiz as pazes com a Vandinha; afinal, ela e eu sempre fomos amigas. Ela me pediu desculpas, dizendo que estava muito preocupada comigo, e fica repetindo que eu preciso esquecer o Pablo, etc, etc. Como se isso adiantasse... eu sei que ele é bem mais velho, e que teve uma história difícil, e que hoje ele tem uma vida complicada, mas eu gosto dele!

Acho que um dia eu vou conseguir esquecer esse meu primeiro amor, tumultuado, errado, mas que ainda me parece tão certo...


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02/05/2028



Hoje tenho 27 anos de idade, e arrumando as coisas para mudar-me para o nosso novo apartamento, acabei encontrando este diário no fundo de um armário. Muitas coisas mudaram desde então. Cresci, amadureci. Vi o quanto aquele meu primeiro amor parecia tão grande, olhando de tão perto... e o quanto ele cresceu a cada dia, com a distância!

Meu pai foi um cara muito legal comigo naquela época. Tanto que procurou o Pablo, e os dois conversaram. Tudo depois que contei a ele sobre o sonho do Pablo em tornar-se engenheiro, e as demais coisas sobre a vida dele. Sem que eu soubesse de nada, meu pai foi procurar o Pablo e ofereceu a ele uma coisa que ele precisava muito, e tantos outros como ele também precisam: uma chance na vida. Meu pai tirou-o daquele lugar, e denunciou o esquema à Polícia Federal. Os responsáveis foram presos. Os jovens que eram escravizados pelo Gio foram libertados. E o Pablo foi terminar os estudos, e fez engenharia - tudo com a ajuda de meu pai, e sem meu conhecimento.

Quando eu fiz dezenove anos, ele me procurou. Mal pude acreditar! Estava na porta da faculdade, esperando por mim. Quase não o reconheci, então aos 26 anos. Eu fiquei ali, parada feito uma tonta, e ele começou a chorar. Chegou perto de mim, me perguntou se eu ainda sentia alguma coisa por ele. E tudo me voltou! É claro que eu sentia! Então ele me chamou para conversar, contando-me tudo o que meu pai tinha feito por ele, e o quanto ele era grato, pois agora sentia-se à minha altura.

Aprendi que o tempo é uma coisa engraçada: seis anos de diferença de idade contam muito quando a gente tem treze, mas não contam nada se a gente tem 19. E que quando o amor é verdadeiro, sabe esperar e amadurecer até a hora certa.

A propósito: nós nos casamos, e é com ele que eu estou indo viver.


FIM



6 comentários:

  1. Que linda história, Ana!
    Admirei a postura do pai!
    Admirei por Pablo não deixar escapar a oportunidade e a gratidão dele.
    Têm pessoas sofridas, que só precisam de uma mão. Outras, se der a mão, elas te derrubam, para passar por cima.
    Acredito, que ainda existem pessoas do bem, mas é preciso saber diferenciar, é preciso sentir o coração.
    Amei, Ana!
    Obrigada, abraços carinhosos
    Maria Teresa

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  2. ANA.MEU DEUS.

    ESTOU ENCANTADA. QUE LINDO.

    ATÉ ME ARREPIOU QUANDO LI FIM!
    AMEI. PARABÉNS MAIS UMA VEZ.

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  3. ooh...uau. leio muitos blogues, ando por ai e poucos são os textos que me tocam, mas realmente este é tão sentido que não posso deixar de comentar o quão bem escrito está, porque está escrito do coração.
    beijinho e espero que tudo corra como esperas, se não...aproveita todas as experiências que a vida te dá, todas elas ensinam alguma coisa, só temos de saber retirar o proveito!

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  4. Muito interessante a trajetória do conto... Um tanto utópico, mas perfeitamente possivel de acontecer na vida real. Vai depender de boas almas como o pai da garota.

    Só sei que prendeu minha atenção, e dessas histórias que eu gosto, porque quando desde o início a coisa não anda... eu nem continuo.

    Parabéns Ana pela história de cunho duplo: dócil e amarga.

    Bacios

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  5. Sinceramente não me passou este ótimo final Ana.
    A chance de mudança, a dedicação, o amor sobre todas as coisas.
    Lindo final.
    Aplausos.
    Bju

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