segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Meu Primeiro Namorado - Parte III







08/02/14


Muitas coisas aconteceram. O Pablo me levou para uma festa na comunidade dele. Tive que inventar uma desculpa para meus pais, já que a Vandinha e o Rodney não quiseram ir também. Disse que tinha encontrado uma amiga da escola, a Brenda,  e que a festa seria na casa dela, mas a Vandinha e ela não se falam, e minha mãe disse que eu poderia ir sozinha. 

Quando chegamos, vi que era um luau, e achei tudo incrível! Um monte de gente em volta de uma fogueira, dançando, cantando, tocando violão. Percebi que a maioria estava fumando maconha, e até aceitei um traguinho, mas não gostei. Me senti um pouco estranha, a pele formigando. O Pablo disse que a gente precisa se acostumar primeiro, e me disse para pegar leve para meus pais não perceberem. A Angélica (aquela garota que fez cara feia quando me viu com o Pablo na primeira vez que fui lá) sentou perto de mim e começou a me encarar. O Pablo estava longe naquela hora, e não viu. Encarei ela também, e ela disse entre os dentes: "Fedelha!" Perguntei por que ela não gosta de mim, e ela disse, olhando para a fogueira, sem nunca me encarar: "O Pablo é meu namorado. Somos namorados há muitos anos. De vez em quando, ele gosta de sair com uma franguinha, mas eu não ligo, porque sei que ele sempre volta para mim. Já estão transando?" Eu respondi que não era da conta dela. Ela riu, e dessa vez, me olhou, dizendo: "Você é uma pirralha metida e virgem, que não sabe aonde está se metendo. O Pablo é complicado. Não é flor que se cheire." Perguntei por que ela namorava ele, então, e ela disse que era porque os dois são iguais.

Depois de ficar calada um tempo, ela me perguntou o que eu sabia sobre ele, e eu disse que sabia que ele estudava engenharia, que era de São Paulo e que estava passando férias ali, como eu. Ela deu uma gargalhada e respondeu: "O Pablo, estrudando engenharia?! E você acreditou? O Pablo não terminou nem o ensino médio! E ele não é de São Paulo, mora aqui nesta comunidade desde os dezessete anos, quando fugiu de casa, porque o pai surrava ele. Vende maconha e outras coisinhas para sobreviver. Você é uma Patricinha de menor, vai se dar mal!"

É claro que eu não acreditei nela! Depois que perguntei ao Pablo, ele desmentiu tudo... ou melhor, quase tudo. Disse que morava ali, que isso é verdade. E que pretende estudar engenharia, só está esperando as coisas melhorarem, e para isso, está juntando dinheiro. E que fazia artesanato para viver. Me mandou ficar longe da Angélica, pois o lance deles já tinha acabado há tempos, mas ela não aceita. Depois ele foi até ela e vi os dois discutirem feio. Gostei de ver quando ela saiu chorando.

Nós fomos dançar. Estavam tocando uma música romântica, um rock-balada. Ele me beijou várias vezes, e depois me perguntou se eu queria ir para um lugar mais sossegado. Eu sentia o corpo queimar. Tinha dado mais uns tragos, e até que a erva não era assim tão ruim... me deixou totalmente relaxada. Gostei. Ele me apertava forte contra o corpo dele, e senti aquela coisa dura encostando na minha barriga. Não sei muito sobre sexo, o que eu sei aprendi em revistas, na internet ou com amigas. Meus pais não tocam no assunto. Uma vez minha mãe me deu um livro, mas era tão careta que eu nem li. Minha mãe só me disse que a primeira vez tem que ser com alguém que a gente gosta, para ficar na lembrança como uma coisa boa, e pensei se eu gostava realmente do Pablo. Afinal, ele tinha mentido para mim. Mas a respiração dele, cada vez mais acelerada, e as sensações novas em meu corpo, me mostraram que eu estava muito gamada nele.

A maioria das minhas amigas já trasou, e uma delas só tem 12 anos. Vou fazer 14 no mês que vem, e acho que já deveria ter acontecido. 

Então, a gente estava dançando, aquelas coisas todas acontecendo no meu corpo e no dele... ele me chamou para irmos para um local mais sossegado... tive certeza de que ia pintar um lance diferente para mim, e tive que dizer a ele que era virgem ainda. Fiquei com vergonha, mas ele me abraçou, e disse que estava tudo bem se eu não quisesse ir, mas que ele não ia dormir cheio de vontade, e que teria que procurar outra garota para transar. Quase morri de ciúmes ao pensar nele com outra! Me senti mal. Ele falou: "Pensei que você fosse um pouquinho menos careta." Respirei fundo, olhei bem nos olhos dele. Ele estava com uma cara triste, decepcionada mesmo. Abracei ele bem forte, acariciei a nuca dele. E vi que se não fosse com ele, eu o perderia.

Já ia dizer "sim," Quando senti uma mão forte me puxando e mal pude acreditar no que vi: meu pai! E minha mãe estava de braços cruzados, olhando a gente. Vi quando meu pai deu um soco no Pablo, que caiu na areia, e foi a maior confusão, pois o Pablo se levantou e revidou. Minha mãe me segurava pelo braço, e me arrastava para longe. Vi, quando olhei para trás, que umas pessoas separaram o Pablo e meu pai. Meu pai berrou que era para ele nunca mais me procurar. 

Enquanto meu pai dirigia para casa, de olho roxo,  e minha mãe chorava no banco do carona, eu entendi tudo: A Vandinha me traiu. Tinha contado tudo aos meus pais, e eles foram atrás de mim por causa do que ela tinha feito. Invejosa! 

Quando chegamos em casa, eu ia direto para o meu quarto quando minha mãe me segurou pelo braço: "Amanhã mesmo essas férias acabam, e você vai para o psícólogo!" É sempre assim: quando eu tiro notas baixas, ou brigo com algum colega na escola, ou fico triste porque meu cachorro morreu, minha mãe me manda para o psicólogo. Não fala comigo. E meu pai só ameaça: "Da próxima vez, você vai ficar de castigo por um ano!" Eles nunca conversam comigo. Uma vez escutei a vovó falando com eles que eles não tinham pulso. Parecia até que tinham medo de mim. Eu concordo com ela: muitas vezes, quero falar sobre as coisas que me acontecem, mas eles não tem paciência para me escutar, só trabalham, vão à festas e me mandam para o psicólogo sempre que tenho algum problema. Queria que meus pais falassem comigo. 

09/02/14

Fui dormir e acordei com os olhos inchados de tanto chorar. Passei uma mensagem para o Pablo, mas ele não respondeu. Passei umas três mensagens, e foi a mesma coisa, até que finalmente ele me respondeu. Nem conheci ele! Achei até que a Angélica pegou o celular dele e respondeu: "Garota, você é problema, e o que eu menos quero agora na minha vida, é mais um. Já tenho muitos. Me esquece!"

Chorei mais ainda. Quando foi dez horas, minha mãe me mandou fazer as malas. A Vandinha ficou na casa do Rodney. Eu não quis falar com ela quando ela foi se despedir, e nem com ele. A viagem de volta pra casa foi horrível. Ninguém falava quase nada, era como se a gente estivesse fingindo que nada tinha acontecido! Eu só pensava no Pablo, e sentia a maior saudade, e mágoa pelo que ele escreveu na mensagem. Decidi que assim que eu tiver uma chance, vou fugir de casa e me mudar para a comunidade com ele. Tenho certeza que ele gosta de mim, ele me disse, e vai ficar feliz quando eu chegar e ele ver que não sou uma garotinha imatura. Vou me entregar a ele totalmente, e nós vamos ficar juntos para o resto da vida.



3 comentários:

  1. É, Ana, é mais fácil ler uma história, do que vivê-la, tanto como filha, como também como mãe. Criei meus filhos homens para que fossem gentis, honestos e responsáveis; como maridos, parece que aprenderam, mas como filhos se perderam.
    É tão difícil saber o que é certo, só descobrimos, quando sentimos na carne a dor da decepção.
    Imagino os questionamentos da mãe da Angélica, preocupada é, pois agiu na hora certa e a encaminhou para psicólogo, pois não tinha pulso firme para educar.
    Acreditamos que sabemos muito, mas descobrimos que somos ignorantes de tudo.
    Boa história para reflexão, obrigada!
    Abraços carinhosos
    Maria Teresa

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  2. O primeiro namorado,costuma render um belo enredo, para um conto,uma canção e, até um filme! Muito bom o que li aqui, recuperando as outras partes.
    Um abraço,Ana!

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  3. Muito bom Ana e santa mão do pai quero crer.
    Melhor seguir para ver.
    Parabéns Ana na arte de prender e fazer criar no leitor os medos e raivas.
    Muito bom.
    Bjs de paz.

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