segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

O ELEFANTE BRANCO – PARTE VIII - FINAL








Alana caminhou para perto de Rubens, e de braços cruzados, passou a rodeá-lo, como quem observa um objeto curioso e ao mesmo tempo, desprezível. Mercedes tinha medo dele, e estava abraçada à Iris. 
Alana chegou bem perto de Rubens, e disse bem próximo ao seu ouvido:

-O que você fez, Rubens?

Ele começou a contar sua história, como se não houvesse ninguém mais no cômodo:

-Fiz tudo como estava escrito no livro, depois que ela morreu. Matei sete pessoas para trazê-la de volta, seguindo exatamente as instruções do livro e o tempo indicado entre a primeira morte e as outras.  Pensando que ela ficaria feliz em passar a eternidade junto a mim, na casa de praia... poderíamos ser felizes ali... antes que ela se fosse, passei anos preparando aquele lugar para nós dois... está tudo perfeito... e ela deveria esperar por mim lá... mas o menino... eu tinha me esquecido dele.

Eles não perceberam que havia outras presenças dentro do cômodo, a não ser Rubens, que  continuou seu relato, enquanto policiais cercavam-no vagarosamente, vendo sua fala como uma confissão:

- Eu mesmo matei o bastardo... o marido de Barbara. Um imbecil que não fez falta a ninguém. Anos depois, chamei-o aqui... (ele olhou brevemente para trás, na direção de Alana). Seu marido Mario. Um telefonema, e ele veio correndo, movido pela ambição, achando que poderia fazer-lhes uma surpresa ao levar notícias da casa que herdaram.  Barbara - ainda estava viva, mas ele não sabia deste detalhe... (Rubens olhou para Mercedes e Caio) Depois, quando os pais deles saíram, foram os garotos. Em seguida, um entregador da loja de materiais de construção. Este foi meu maior erro, eu... me precipitei. Deveria saber que alguém procuraria por ele... e então... você e sua filha histérica. Eu levaria seus corpos hoje lá para baixo, para finalizar o ritual. E então... ela me aparece aqui, dizendo que não quer ficar... que deseja ir para longe, ser livre, sair desta casa e deste lugar... quer ir embora com o menino, mesmo sabendo que não poderei seguí-la!

De repente, Alana sentiu um puxão forte em seu corpo, e soube que eram duas pessoas  vivas passando através dela. A sensação tinha sido horrível, e como não gostaria de repeti-la, ela encostou-se em uma parede. Eram dois policiais, que algemaram Rubens. Iris acenou as duas mãos na frente deles, mas eles não a viram. Ela riu, divertida. Enquanto Rubens passava por eles, Caio gritou:

-E nossos pais? O que fez com eles?

-Eles estão bem. Estão vivos. Estão em casa. Descobriram tudo, ao procurá-los recentemente na casa de pedra.

Os policiais se entreolharam, e um deles girou o dedo indicador junto à lateral da cabeça, enquanto o outro ria, mas as outras pessoas dentro do cômodo nem sequer perceberam, só viam Rubens se afastando como se estivesse sendo puxado para trás e para fora da casa.

.   .   .    .   .   .   .   .   .   .   .   .  .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .

Na casa de pedra da praia, que ficava próxima ao mar onde as ondas quebravam com força, eles foram viver. Passavam as manhãs e as tardes caminhando junto ao mar, sentindo a leveza do vento em seus rostos etéreos e esperando. 

Esperavam por um dia que certamente chegaria, e os libertaria a todos daquele paraíso solitário. Mario juntou-se a eles. Passavam tardes inteiras sentados em cadeiras junto à praia, e assistiam ao pôr do sol juntos. Iris e Mercedes sabiam que estavam destinadas a se encontrarem novamente depois daquela passagem entre vidas, e que tinham uma história para viver juntas. Mas Iris também sentia-se da mesma forma em relação a Caio, que apaixonara-se por Alana, que dividia seu amor entre ele e Mario.  

Porém, naquele lugar, não havia espaço para preconceitos, ciúmes ou convenções sociais. Tudo o que sabiam, é que haveria uma outra vida para viverem, e que estariam juntos nela. Havia uma nova história a ser construída. Mas quem decidiria o rumo daquela história, e quem ficaria com quem, era algo com o qual não precisavam se preocupar naquele momento. 

Os pais de Caio e Mercedes sabiam e sentiam que seus filhos viviam ali perto, e frequentemente, recebiam sinais da presença deles. Eles tomariam conta daquele lugar e deles até o dia em que finalmente, juntar-se iam aos seus filhos, quando então todos eles seriam livres para cumprirem seus destinos. A casa na praia, que era feita de pedras sólidas, ainda ficaria ali durante muitos e muitos anos, olhando o mar, e em um futuro distante,  eles voltariam até ela em seus sonhos. Só que não poderiam lembrar-se dela quando estivessem acordados. 

Os anos foram passando, e finalmente, eles se reuniram. Ficou uma grande casa branca abandonada, quase em ruínas, no alto de uma colina de onde se podia ver uma paisagem bela e melancólica. Apenas os sons do vento e das ondas quebrando na praia lá em baixo eram ouvidos – parecia que o tempo, de alguma forma, havia sido congelado naquele lugar. Os novos compradores ficaram muito tempo admirando o estranho desenho na parede, até que deram ordens ao pintor para removê-lo, e ele foi totalmente raspado.

Dentro da floresta, havia uma outra casa – um chalé abandonado – onde também existia um desenho muito parecido com o primeiro. E ele permaneceu ali, até que o tempo tratasse de cobrir as paredes e o chão com a vegetação da floresta, e a chuva derrubasse o telhado. Logo, havia animais vivendo entre as ruínas, e pássaros abrigando-se no que restara de seus madeiramentos e nichos. Porém, a parede com o desenho ainda estava de pé. O portal ainda existia. 

Do outro lado deste, uma fileira de criaturas perdidas aguardava pacientemente. Às vezes, alguns deles conseguiam atravessá-lo. 




FIM







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