terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

O ÚLTIMO FINAL DE SEMANA - PARTE V






O Último Final de Semana -Parte V

Assim que a viu no aeroporto, onde Rodrigo a tinha ido buscar juntamente com Cleide, ele sorriu e correu para pegar-lhe as malas. Valéria praticamente pendurou-se no pescoço dele, lascando-lhe um beijo roubado que foi presenciado por sua mãe, que engoliu em seco e passou a viagem de volta para casa em completo silêncio enquanto os dois jovens tagarelavam. Lá chegando, foi para o seu quarto alegando uma repentina dor de cabeça, e fechando as cortinas, deitou-se na cama e pensou sobre os últimos meses.

Certa noite na casa de praia, enquanto Valéria já dormia após uma festa onde todos tinham dançado demais, Cleide levantou-se com insônia, e foi sentar-se na varanda da casa. Não acendeu as luzes, e seus chinelos macios não produziram nenhum som sobre o piso de ardósia. Ficou olhando o mar, e de repente, avistou Rodrigo banhado pela luz do luar, refrescando-se na água salgada. Ela ficou observando-o em silêncio. O menino despertava-lhe sentimentos que há muito não tinha. Sabia que ainda era uma mulher jovem e muito bonita, e tinha seus amantes casuais mais por hábito do que por prazer, mas nenhum deles despertava-lhe aquele misto de ternura e desejo febril que Rodrigo causava-lhe. Ela sempre tentava tirar aqueles pensamentos da cabeça, pois ele era apenas um menino e estava sob os seus cuidados. Evitava tocá-lo ou ficar sozinha com ele durante muito tempo. Sentia-se irritada ao vê-lo dançando com suas amigas, que tratavam de abraça-lo forte disfarçando o desejo com um falso instinto maternal (ela sabia ser falso porque ela mesma sentia o mesmo que suas amigas). Rodrigo era um menino alto e de compleição forte. Alto demais para a sua pouca idade. 

Poderia muito bem passar por alguém com dezesseis anos. 
Quando ele saiu da água, ela notou que ele estava completamente nu. Ele não a viu; a praia estava deserta, e os únicos ruídos que ela escutava eram o das ondas quebrando mansas na praia. Ele ficou algum tempo de costas para a casa, olhando o mar; de repente, ela notou o movimento do seu braço esquerdo, acariciando-se cada vez mais forte. Ela arregalou os olhos, e continuou olhando-o. Não estava pronta para a cena que se descortinava diante de seus olhos! 
Quando ele finalmente voltou para casa, Cleide permaneceu sentada na varanda, no escuro, com medo de que ele notasse que ela estava ali e que tinha visto tudo. Ele subiu os degraus até a varanda sem vê-la, mas quando ia entrar na casa, ela acidentalmente derrubou o pequeno vaso de flores que estava sobre a mesa com o cotovelo, chamando a atenção dele. Pensou: “Oh, ele está nu, e vai ficar constrangido!”

Rodrigo parou, virando a cabeça na direção dela, e quando a viu, não tentou entrar correndo na casa ou esconder-se; ao invés disso, voltou e sentou-se na cadeira ao lado dela com toda naturalidade, passando a mão sobre os cabelos molhados e comentando: “Não está uma linda noite, titia?!” Ela notou o som sarcástico na voz dele, e deu graças por estarem no escuro e ele não poder ver o seu rosto vermelho de vergonha. Ela pigarreou, concordando com ele. Como aquele menino era atrevido! Ela manteve os olhos fixos na praia, e ele começou a tagarelar sobre assuntos do dia, a festa, as pessoas... tinha um senso de humor sarcástico, e por um momento, ela riu, esquecendo-se que ele estava nu ao lado dela, a poucos centímetros de sua mão.

Ele suspirou, dizendo: “Sabe, faço quatorze anos na próxima semana.” Cleide tentou parecer natural quando disse: “É mesmo? Ah, que bom! Vamos dar uma festa para comemorar!” Deu um sorriso amarelo, mas ele não respondeu, olhando para ela fixamente. Cleide sentia os olhos dele queimando o corpo dela, penetrando sob a renda fina da camisola e lambendo-lhe a pele bronzeada. Sabia-se bonita; sabia que despertava a atenção de muitos homens, inclusive, bem mais jovens que ela. Era magra, corpo muito bem torneado por aulas de ginástica, cabelos loiros macios caindo sobre os ombros, olhos azuis. 
Após alguns minutos que pareceram horas, Rodrigo murmurou:

“Uma festa estaria OK. Eu gostaria disso. Mas tem uma coisa que eu quero mais. E vai ser muito bom para você também.”
Ela olhou para ele, e viu que ele aproximava o rosto do dela. Cleide sabia muito bem que Rodrigoera  uma criança, e que o certo seria ralhar com ele e manda-lo para o seu quarto. Mas que criança podia ser assim tão diabólica quanto ele? Qual o poder que ele exercia sobre ela, de onde vinha tanta força? 

Deixou-se beijar, e depois daquela noite, houve muitas outras. Ela pedia a ele que não mais tirasse suas amigas para dançar. Mesmo assim, ele gostava de provoca-la, e sempre dançava com as outras mulheres. Tiveram uma horrível discussão na noite em que ele dançara com Valéria, sua própria filha, mas ele respondeu dizendo que Valéria era jovem e que ele gostava dela, e se Cleide proibisse a relação deles, deixaria de dormir com ela. Ainda arrematou, perguntando: “O que você quer? Acha que um dia poderemos namorar, casar? Tenho quatorze anos, tia Cleide, e a senhora tem trinta e tantos... a diferença de idade entre nós é muito grande!” 

Ela sentiu o tom sarcástico quando ele a chamou por ‘Tia Cleide’ e ‘senhora’, e teve vontade de bater nele – o que quase aconteceu, mas ele segurou a mão dela no ar, ameaçando: “Encoste a mão em mim, e eu vou procurar ajuda legal! Ainda a denunciarei por pedofilia!”  Dizendo aquilo, Rodrigo saiu da sala, deixando uma corrente vibratória de raiva no ar.

A palavra ‘pedofilia’ teve um forte impacto em Cleide; ela sentou-se no sofá e chorou. Então fora naquilo que ela se transformara? Fora naquilo que ele a transformara? Mas a raiva de Rodrigo durou apenas até a hora do jantar, e ele sentou-se na mesa alegre e sorridente como se nada tivesse acontecido, namorando Valéria na frente dela. Tarde da noite, ela ouviu a maçaneta do seu quarto sendo aberta devagar, e sentiu o cheiro dele quando ele se ajeitou ao seu lado, na cama. E tudo voltou a ser como era antes.
Até que eles voltaram à cidade, onde tiveram um longo período em que o apartamento ficou só para eles, enquanto Valéria estava na escola. Mas assim que ela voltou, as coisas mudaram... na primeira noite à chegada da filha, Rodrigo passou a noite com ela, enquanto Cleide queimava de desejo em sua cama fria e vazia. No dia seguinte, viajariam para as férias na praia, mas enquanto tomavam o café da manhã, Valéria sugeriu:

“Mãe... o Rodrigo me disse que nunca viajou para outro país. Que tal se passássemos as férias em um tour pela Europa?”

Cleide rebateu:

“Você sabe que gosto de passar os verões no Brasil, na casa de praia, e que só viajamos no inverno, filha. Não; vamos ficar aqui.”

Valéria e Rodrigo se entreolharam:

“Mãe, você não entendeu... eu estava pensando em irmos só eu e o Rodrigo. Quero dizer, se não tiver nenhum problema para você! Assim, você pode ir à praia enquanto nós ficamos um mês viajando pela Europa, só nós.”

Cleide sentiu a garganta apertar. Deixou cair o talher, mas Valéria e Rodrigo estavam tão entretidos um com o outro que nem perceberam. Ela continuou:

“Vocês dois sozinhos na Europa? Mas é claro que não! São apenas dois pirralhos (ela estressou a pronúncia da palavra ‘pirralhos’). 

“Mãe, já tenho dezesseis! Você me deixou ir sozinha para a Disney quando eu tinha doze anos, lembra?”

“Foi uma excursão. Havia adultos tomando conta de vocês” 

Valéria retrucou:

“Mas mãe!!!”

Rodrigo interrompeu:

“Não ínsita, Valéria. Eu tenho certeza que ela vai pensar melhor, considerar a nossa proposta com mais calma e vai acabar concordando!”

Valéria arregalou os olhos; com certeza, Rodrigo não conhecia sua mãe muito bem. Ela jamais mudava de ideia. Cleide viu o olhar ameaçador nos olhos dele, e temeu que ele contasse a todos a verdade sobre o que ambos vinham fazendo 
juntos. Morreria de vergonha! Respirou fundo e declarou:

“Tudo bem, pode comprar as passagens pela internet, filha. Divirtam-se.”

Ainda tentou sorrir. Valéria estava boquiaberta, mal acreditando no que tinha acabado de ouvir!

Aquele foi um dos piores verões da sua vida: o primeiro verão que passou sem Rodrigo após tê-lo conhecido, imaginando ele e sua filha juntos na Europa. Eles mandavam fotos e vídeos que ela assistia e chorava. O menino era não apenas diabólico, mas cruel! Mesmo assim, ela tentou sobreviver, mantendo um sorriso no rosto e bebendo bem mais do que o normal.

Certa noite, enquanto os dois viajavam pela Europa patrocinados por ela, sozinha na casa de praia, Cleide depositava mais um valor altíssimo na conta de Rodrigo; ele alegava que aquele valor seria a sua liberdade financeira, através do qual ele poderia garantir seu futuro, já que ela o estava usando, e tudo tinha um preço... de repente, ela caiu em si e finalmente percebeu que estava sendo chantageada por ele. Começou a andar de um lado ao outro da sala, penando em uma solução para o seu problema. Preocupava-se também com Valéria, que poderia estar com a cabeça cheia de ilusões a respeito de Rodrigo. Bem, mas... seria a palavra dela contra a dele. E ele não tinha nenhuma prova! Ela, uma mulher madura e experiente, estava se deixando engambelar por um moleque! Seria muito fácil resolver tudo. 

E quando eles voltaram, ela decidiu conversar com ele na primeira oportunidade enquanto Valéria estava fora. Colocou as cartas na mesa, e foi incisiva: “Sou uma mulher conceituada, madura, e tenho um lugar importante na sociedade, e você, o que é? Apenas um moleque que tentei ajudar, e que se aproveitou de minha boa vontade para inventar coisas a meu respeito a fim de me chantagear. Em quem você acha que as pessoas vão acreditar, Rodrigo?”

Ele olhou-a por algum tempo antes de responder, um sorriso fino e malicioso nos lábios: “Em mim!”

Ela deu uma gargalhada nervosa:

“Você não tem nenhuma prova!”

Ele ergueu-se do sofá, e ligando a TV, inseriu nela um pendrive. Cleide observava-o, e quando as cenas tórridas na tela começaram a surgir, onde ela e seu algoz mirim rolavam na cama, ela deu um grito abafado. Correu para a TV, retirando o pendrive sob o olhar tranquilo dele, que disse:

“Tenho muitos desse, espalhados em vários lugares, inclusive, fora desta casa. Acha que sou tolo? Você está nas minhas mãos, titia. E pensando bem, a senhora bem que gostou do que minhas mãos são capazes de fazer. Agora seja boazinha e coloque-me no seu testamento. Quero esta casa e o apartamento na cidade no meu nome até o final da semana!”

“Você está louco? Só pode estar brincando! Mesmo que eu fizesse isso, Valéria contestaria o testamento e você ficaria sem nada!”

“Ela não vai fazer isso, pois jamais ficará sabendo. Vamos nos casar assim que eu fizer 18 anos.”

Cleide correu até ele, esbofeteando-o com força. Rodrigo não reagiu; deixou que ela o esmurrasse, e quando ela finalmente se cansou, caindo exausta no sofá e deixando um fio de sangue escorrendo do canto de sua boca, ele o e enxugou com a manga da camisa e olhando-a com desprezo e lágrimas nos olhos, falou:
“Já fui usado muitas vezes por pessoas como você, inclusive pela minha própria mãe. Só que agora eu resolvi que vou cobrar. E meu preço é alto, e você vai pagar direitinho, titia. Se é esta a minha habilidade natural, se é este o dom que Deus me deu, vou usá-lo a meu favor. Cada um deve lutar com as armas que tem, e estas são as minhas.”

Ela ainda olhou para ele, totalmente exausta pelo ataque de fúria:
“Você vai arrumar suas coisas e sair daqui agora mesmo. Vai sumir desta casa, e das nossas vidas, e nunca mais vai procurar por nós. Vai deixar minha filha em paz.”

Ele apenas negou com um aceno de cabeça. 
Antes de sair da sala, ainda disse, calma e pausadamente:
“Não se esqueça de procurar seu advogado para me incluir no testamento, titia. Se não o fizer, mostrarei todo o meu material para Valéria. Irei à polícia, aos jornais, ao juizado de menores e foderei com a sua vida, sua pedófila desgraçada!”

Valéria trancou-se em seu quarto. Naquela mesma semana, procurou o advogado e modificou o testamento, mas meses depois, recebeu a notícia de que estava muito doente. Dali em diante, sua vida foi apenas lutar para viver, tomar muitos remédios e fazer tratamentos caríssimos, cedendo às chantagens de Rodrigo, que cada vez mais, fazia com que ela depositasse grandes quantias de dinheiro na conta dele.

Enquanto isso, Valéria e Rodrigo namoravam como um casal adolescente fazia, e o amor dela por ele crescia cada vez mais. As festas na casa de praia continuaram, embora sem Cleide, que alegava mal-estar a fim de não comparecer. Ficava no apartamento da cidade, vivendo seu inferno astral, o lenço escondendo a calvície devido ao tratamento contra o câncer. Sua doença tinha períodos de remissão, para logo em seguida, Cleide descobrir que ela apenas se escondera em outro lugar, e o tratamento recomeçava. 

Quando Rodrigo completou dezoito anos, e Valéria, vinte, ele a pediu em casamento, e ela aceitou; mas dias antes do casamento, Cleide chamou a filha e contou-lhe toda a verdade sobre ela e Rodrigo, inclusive sobre a chantagem. Valéria não acreditou na mãe, e então a única alternativa de Cleide para convencer a filha fez com que ela tivesse que descer ao último degrau: Deu-lhe o pendrive, e Valéria assistiu a tudo com lágrimas nos olhos. Tentou odiar a mãe, mas não conseguiu, pois percebeu que ela era uma vítima, tanto quanto ela. O aspecto frágil e macilento de Cleide impedia que a filha a odiasse, redimindo-a de todos os seus pecados. Mas o pior de tudo, foi que Valéria tentou odiar Rodrigo, mas também não conseguiu. Apenas pediu a ele que fosse embora dali para sempre, o que ele fez sem demonstrar nenhum pesar. Tinha uma gorda conta bancária, era o dono da casa de praia e do apartamento. Estaria bem. Mas elas duas estavam vivendo da pensão que o marido deixara para Cleide, e da renda de dois apartamentos alugados. A fortuna de Cleide reduzira-se a quase nada.


(continua...)


 

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