Passei o dia todo no trajeto entre a minha cama e o banheiro
do meu quarto. Arrependi-me amargamente por ter bebido tanto, logo eu, que
tinha o estômago fraco. Minha mãe tentou dar-me um chá, mas só de sentir-lhe o
cheiro, a náusea aumentava ainda mais. Eva passou o dia todo me ignorando, mas
polidamente, pediu que minha mãe me estimasse as melhoras por ela.
No dia seguinte, já me sentindo melhor, fui tomar o café da
manhã com a família; Eva já tinha saído. Ela estava claramente me evitando. Mas
o que tinha acontecido entre nós não podia continuar sendo ignorado! Eu sabia
que tinha significado algo para ela também, e não ia deixar aquele momento ser
simplesmente enterrado no tempo. Assim, resolvi ir até o apartamento dela.
Toquei a campainha, e vi pela greta da porta quando ela se
aproximou e do olho mágico; não abriu. Insisti, e comecei a bater e falar alto
no corredor, e finalmente, ela abriu e fez sinal para que eu entrasse. Olhando
em volta, vi que os sofás tinham chegado, e o quadro que mamãe dera tinha sido
pendurado. Havia também um tapete enrolado no canto, ainda embalado.
Ela fez sinal para que eu me sentasse, e eu o fiz, sem tirar
os olhos dela. Eva usava um vestido azul sem mangas muito simples, que ela
costumava vestir quando ficava em casa, e como sempre, com sua elegância e
escolha certa de acessórios, ela conseguia fazer com que uma peça totalmente
sem graça parecesse uma roupa cara de grife quando a usava.
-Elton, acho melhor esclarecermos algumas coisas...
-Eu também. Você tem me evitado.
-Bem, é claro que tenho, afinal, depois de tudo o que
aconteceu! Só quero deixar claro que eu sinto muito, e sei que também tive uma
parcela de culpa... mas de hoje em diante, tudo será diferente, pois percebi
que eu vinha monopolizando você, e sua atenção, em um momento da vida no qual
eu me sinto triste, carente e solitária, era como uma carícia em meu ego.
-O que? Então você quer dizer que estava ... me usando?...
Ela se levantou, caminhando até o meio da sala. Seus saltos
ecoavam no piso.
-Não, não é isso! Apenas quero dizer que deixei com que as
coisas se confundissem. Se eu tivesse mantido uma certa distância emocional,
tudo estaria bem. Gosto muito de você, Elton, e por isso, é muito importante
para mim que você me entenda... é impossível ficarmos juntos porque...
Levantei-me e fui até ela, segurando suas mãos.
-Eva, eu já sei o que você vai dizer; vai falar da nossa
diferença de idade. Vai dizer que as pessoas vão nos apontar na rua, e que
minha mãe vai nos odiar... e que todos serão contra... mas eu estou pronto para
enfrentar o mundo por você.
Ela sacudiu a cabeça, rindo; aquele gesto me irritou, mas eu
me calei, enquanto ela levava a mão à cabeça:
-Não, nada disso... olhe só, Elton! Como você pode deixar
que as coisas sigam por este caminho? Você é tão... maravilhoso, e ao mesmo
tempo, tão... infantil! Nós mal nos conhecemos! Fazem apenas algumas semanas
desde que cheguei, e você acha que está apaixonado por mim... ora, veja!
Aquilo realmente me ofendeu, e cerrei os lábios. Senti que
meus olhos lacrimavam.
-Aquele beijo que eu dei em você foi infantil, Eva? Foi
coisa de garotinho? E você correspondeu!
-Eu já explique! Eu estava, aliás, eu estou carente
demais... confundi as coisas. Não existe e nem pode existir nada entre nós,
Elton. Você não passa de um rapazote, e eu sou uma mulher madura.
Ela me olhou friamente. Num impulso, eu andei até ela e sem
nada dizer, passei meus braços em volta do seu corpo, beijando-a com paixão.
Ela tentou desvencilhar-se de mim, mas eu era mais forte, e continuei
beijando-a à força. Ela se movia entre meus braços, até que finalmente
soltou-se, dando-me uma bofetada no rosto. Instintivamente, levei minha mão à
bochecha que queimava. Ela tapou a boca, em sinal de arrependimento, e veio até
mim, mas eu andei para longe dela. Fiquei de pé à janela, de costas para ela,
pois não queria que me visse chorar.
Ouvi quando ela suspirou profunda e tristemente, sentando-se
novamente no sofá. Olhei para trás; Eva estava com o rosto entre as mãos, os
cotovelos apoiados nos joelhos. Aproximei-me, ajoelhando-me em frente a ela.
-Eu amo você. Não precisa tentar entender, eu sei que faz
pouco tempo desde que nos conhecemos, Eva, mas o que eu posso fazer? Nunca
senti isso ou nada parecido por nenhuma das garotas que conheci. Você é quem eu
quero! E se as pessoas falarem, o que me importa? Eu estou apaixonado por você,
e aconteceu no primeiro dia em que nos vimos. E acho que será sempre assim,
Eva. mesmo que você não me queira.
Ela olhou para mim, e vi a dor em seus olhos.
-Você compreende, Elton, que eu sou vinte e cinco anos mais
velha que você, e que quando eu tiver...
-Já fiz estas contas, Eva.
-Mas e seus amigos, você terá vergonha de mim, e eu...
-Se você está falando assim, então é porque também me ama!
Você também pensou nessas coisas todas! Por que pensaria, se não me amasse
também?
Eva baixou os olhos para as mãos, e depois olhou-me
novamente.
-Olhe bem para o meu rosto, Elton! Olhe bem de perto! Minha
pele já não tem o vigor e a firmeza de antes. Meu corpo também já não é tão
firme e flexível quanto...
-Você é maravilhosa!
-Mas eu tenho rugas, eu estou envelhecendo, e logo isso será
óbvio!
-Você é maravilhosa!
-Eu... eu tenho muitos cabelos brancos! Sabe, eu tinjo...
-Você é maravilhosa!
Aos poucos, sentei-me ao lado dela, sem deixar de olhá-la, e
beijei-a novamente. O que aconteceu depois, nem é preciso contar... apenas digo
que foi a experiência mais maravilhosa que eu já tivera, e confesso, que já
tive, até os dias de hoje.
Eva era uma mulher linda, apaixonada, carinhosa e
experiente, e parecia sentir uma sede de muitos anos.
Mais tarde, fomos almoçar juntos na cidade. Escolhemos um
restaurante afastado do centro, onde achamos que não haveria nenhuma
possibilidade que alguma amiga de mamãe, vizinho ou conhecido nos visse. É
claro, Eva pagou a conta. Eu me senti constrangido, e disse a ela que logo
encontraria um emprego e as coisas mudariam. Se fosse preciso, desistiria da
faculdade, e ela protestou veementemente. Também lhe disse que eu falaria com
meus pais naquele mesmo dia, e que se eles não concordassem, me mudaria para o
seu apartamento.
-Você está indo rápido demais, Elton. As coisas não podem
ser assim. Eu não posso simplesmente dizer à Graça que seduzi o filho de 21
anos dela enquanto ela me recebia em sua casa!
Segurei a mão dela. Percebi que quatro mulheres em uma mesa
vizinha nos olhavam. Eva percebeu, e corou, escorregando a mão para longe da
minha. Vi que ela estava prestes a chorar, então servi-lhe um pouco de água.
-Eva, nós precisamos nos acostumar com este tipo de reação.
Precisamos enfrentar tudo se quisermos ficar juntos.
Ela sorriu levemente. Percebi o quanto Eva se sentia
desconfortável em público, agora que éramos amantes. Pensei em sua vida
passada, de mãe e esposa. Tentei compreendê-la, concluindo que ela logo se
acostumaria, quando eu a fizesse a mulher mais feliz do mundo.
-Eu penso em minha filha, Elton... qual será a reação dela?
-Se ela a ama - e tenho certeza que sim - gostará de saber
que a mãe é feliz; senão, ela já tem sua própria vida, em outro país. Você
precisa reconstruir a sua!
Ela assentiu. Olhou-me novamente nos olhos, e segurou minha
mão sobre a mesa. Escutamos as risadas abafadas na mesa próxima, e ela baixou
novamente os olhos. Olhei diretamente na direção das mulheres, erguendo meu
copo como se lhes fizesse um brinde. Elas se calaram. Eva sorriu, desta vez,
seu mesmo maravilhoso e aberto sorriso.
(continua)
Boa noite Ana.. a questão da idade realmente incomoda muita gente.. mas como dizem o amor não tem idade.. eu já passei por isso. mas acabei desistindo pq a mae da moça jamais aceitaria a nossa diferença de 11 anos.. mesmo ela gostando muito de mim e eu dela.. não segui,.. tem pais que não entendem.. infelizmente e a vida segue com ou sem empecilhos bjs e uma linda noite
ResponderExcluirBoa noite querida Ana , a minha visita hoje é para divulgar meu novo blog. Criei mais um com o nome FILOSOFANDO NA VIDA, para postar minhas produções textuais, pensamentos e poesias. Ficarei feliz com sua visita e se me de o prazer de curtir mais este projeto.
ResponderExcluirO linque do blog é:
http://filosofandonavidaproflourdes.blogspot.com.br/
Uma linda noite e que a paz Divina esteja sempre com você e sua família.
Bjuss , Profª Lourdes Duarte