segunda-feira, 31 de março de 2014

A Ilha Sem Barcos - Final




Na Ilha de Pérola, Rosalba sentiu um vento novo a agitar-lhe os cabelos, e então compreendeu que era hora de recolocar seu barquinho no mar. E ela o fez, o olhar navegando no balanço das ondas, os braços erguidos numa bênção.

Na manhã seguinte, na ilha abandonada, Carlos estava pescando o café da manhã, quando avistou, longe no mar, vindo em sua direção, o seu barco perdido. Prontamente, acordou os outros dois para dar-lhes a novidade.

 Ambos vieram correndo, e decidiram embarcar naquele mesmo dia, claro e ensolarado. Após colocarem no barco algumas provisões, já prontos para irem embora da ilha, Liana lembrou-se que esquecera suas sandálias na casa, e voltou para pegá-las; mas quando chegou lá, não havia casa alguma. Na clareira, apenas os alicerces em ruínas de algo que um dia, tinha sido uma cabana de madeira, quem sabe, utilizada por algum pescador ou náufrago. Os três ficaram intrigados, e durante certo tempo, ainda tentaram encontrar a casa, mas não conseguiram.

Depois daquela noite inusitada, muitas coisas mudaram dentro dos nossos personagens. Carlos, um homem totalmente sem fé, passou a crer que existe algo mais além do que se pode ver, e mudou totalmente seu pensamento e sua maneira de agir. 

Liana e Décio compreenderam que seu casamento tinha sido um erro, e decidiram seguir suas vidas sozinhos de comum acordo. Liana também passou a ser uma pessoa mais compreensiva e menos preconceituosa, e Décio finalmente compreendeu que era preciso pegar as rédeas de sua vida e fazer o que desejava, aprendendo a dizer 'não' quando necessário.

Na Ilha de Pérola, na mesma manhã em que o barco chegava, Cecília correu para o quarto a fim de dar a Nina as boas notícias, mas ela já não acordou mais... foi um dia de lágrimas de tristeza e de alegria. Cecília decidiu que iria embora da ilha com Genaro, para recomeçar a vida em outro lugar. Deixou para trás suas dores e segredos do passado que a haviam trazido àquela ilha, a fim de finalmente recomeçar uma nova vida, pois aprendeu que quem arrasta o passado atrás de si, carrega um peso morto que impede de avançar e ser feliz. Todo aquele tempo que passara na ilha, ficara levando, no fundo de seu pensamento, as coisas que deixara para trás: a vida com o falecido marido, as saudades dos pais, os sonhos abortados.

Antes de partir, Cecília e Genaro casaram-se em uma linda cerimônia à beira-mar, assistida por todos.

Décio voltou para casa com Cecília e o pai, decidido a abandonar o escritório de advocacia (profissão escolhida por sua mãe) e sair pelo mundo em uma longa viagem, por tempo indeterminado, a fim de repensar sua vida. Assim, Antônio e sua filha Liana tiveram a ideia de assumir a administração do hotel. Ambos chegaram à conclusão de que deveriam chamar Rosalba para morar com eles no hotel, e desta vez, ela aceitou, feliz da vida. Um psicólogo e um professor foram contratados para ajudá-la, e Rosalba fez muitos progressos, tornando-se camareira do hotel; mas isto durou pouco, pois logo Antônio resolveu adotá-la. Teve de Liana toda a aprovação.

Nenhum dos três falou sobre o acontecido na ilha. Não houve qualquer acordo entre eles de não tocarem no assunto; mas cada um deles decidiu que seria melhor respeitar os segredos dos que não mais viviam.

Meses após o naufrágio, Carlos e Liana tentaram achar a décima-sexta ilha, a fim de mostrá-la a Antônio. Tentaram durante vários dias, e nem mesmo de helicóptero conseguiram localizá-la. Na prefeitura local, ao perguntarem sobre a existência da ilha, foram informados de que naquele arquipélago havia apenas quinze ilhas, todas elas habitadas e conhecidas atrações turísticas.

No verão, durante a temporada em que os hotéis das quinze ilhas enchiam-se de turistas, Liana encontrou o amor de sua vida - o verdadeiro.


FIM


Desejando ler os primeiros capítulos, basta descer o cursor até o final do blog; eles estarão lá, entre outras histórias.


Um comentário:

  1. Oi Ana, espetacular tua história e o mais envolvente é o entrelaçar de personagens que ramificam sensações, momentos e mistérios.

    Gosto também da tua capacidade em escrever sempre um moral da história, um tipo de alento, ou um alerta, ou simplesmente uma constatação.

    "A ILHA SEM BARCOS" é mais uma representação genial dessa escritora que enreda o leitor , deixando um sabor de "quero mais".
    Parabéns Ana, por mais esse trabalho.

    Bacios

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