quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A Flor Jamais Colhida - Final




Nova cidade, novo emprego, nova vida... dizem que a distância pode ajudar a esquecer um grande amor. Gabriel dedicou-se de corpo e alma ao trabalho, e conseguiu importantes promoções na companhia. Logo, conheceu uma moça excelente, Tânia, com quem se casou após dois anos de namoro. Tânia era bonita, delicada e amorosa. Tudo o que um homem poderia querer. Após alguns meses de casamento, ela engravidou.

A amizade entre Nuno e Gabriel continuou, pois ambos gostavam-se muito. Certa vez, Nuno, Hilda e Pedro - seu filho, então com dois anos de idade - foram passar uma curta temporada com Gabriel e Tânia na época de férias. Rever Hilda fez com que Gabriel percebesse que, apesar de ainda amá-la muito, o seu sentimento poderia ficar sob controle, adormecido em algum recôndito do seu coração. Hilda e Tânia tornaram-se grandes amigas, e sempre conversavam pelo computador. Os casais revezavam-se, visitando-se a cada ano, e seus filhos cresciam. Gabriel e Tânia tiveram um casal de gêmeos - Márcio e Mariana.

Com o tempo, Gabriel foi novamente transferido para sua cidade natal, onde pode conviver mais amiudamente com Nuno e Hilda. 

O segredo entre eles permaneceu um segredo. As crianças foram crescendo, casando-se e tendo suas próprias vidas, mas os dois casais permaneceram sempre amigos, e nem Gabriel nem Hilda jamais voltaram a falar sobre o sentimento que existia entre eles, e que jamais morrera. Mas este revelava-se a cada olhar trocado furtivamente, ou quando eles se tocavam acidentalmente e algo como uma corrente elétrica passava de um para o outro, como  ocorreu à mesa, durante um jantar: ao pegar uma travessa das mãos de Hilda, Gabriel tocou-lhe de leve o pulso, fazendo com que ela quase derramasse a terrina com molho de macarronada sobre a toalha. 

À noite,  quando deitava-se ao lado da esposa, Gabriel às vezes pegava-se pensando em Hilda, e se perguntava se ela também estaria pensando nele. E ela estava. 

Amaram-se de longe durante muitos anos, até que envelheceram. Casaram seus filhos, tornaram-se avós, aposentaram-se. Nuno adoeceu no verão, aos setenta anos de idade, e Hilda permaneceu ao lado dele até o final da longa doença que o levou embora. Dois anos mais tarde, Tânia também se foi.

Mesmo assim, Gabriel e Hilda jamais concretizaram seu amor... mas... como não? É claro que sim! nada existia de mais concreto do que aquele amor platônico, jamais posto à prova, que durara uma vida inteira e fora forte o bastante para permanecer em segredo sem que ninguém precisasse ferir-se! E quando Hilda se foi, Gabriel estava ao seu lado no hospital, segurando-lhe a mão. Seu último olhar fora para ele. Seu último suspiro pousou na pele do seu rosto, como um beijo de despedida. 

E no momento final, ele a acompanhou até sua derradeira morada, permanecendo ainda algum tempo depois que todos se foram. No jardim onde sua flor jamais colhida foi novamente plantada, ele derramou suas lágrimas. Uma leve brisa soprou até ele, levando um forte perfume de rosas.



FIM


Um comentário:

  1. Acho que não existe nada mais sublime, que um amor assim. Acredito Ana, que se eles tivessem vivido o amor, não duraria tanto. Linda historia, agradeço, abraços carinhosos
    Maria Teresa

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