sábado, 25 de maio de 2013

AS DUAS COMADRES






AS COMADRES


Duas comadres conversavam ao portão de suas casas, sentadas em cadeiras de poliuretano que tinham sido colocadas na calçada, sob a frondosa sombra de uma jaqueira. A tarde era quente, e elas, de olhos semicerrados pela claridade do sol, observavam a vida e os vizinhos que passavam.

De vez em quando, uma delas fazia um comentário:

-Olha lá, Dona Maria! Lá vai a Gigi, da casa amarela! Até que enfim pôs a cara pra fora de casa!
-Pois é, Dona Joana! A mulher fica o dia inteiro enfurnada dentro de casa, fazendo só Deus-sabe-o-quê... não sai nem para ir à missa!
-Que pecado!
-Pois é, que pecado! E enquanto isso, a tal da Lurdinha passa o dia inteiro batendo perna na rua!
-Dizem até que está corneando o marido, aquele coitado...
-Coitado!
-Pois é, coitado... também, quem mandou casar com mulher bonita e bem mais nova?
-Falando nisso, e o trouxa do Zezinho que casou com aquele museu?
-É mesmo! Coisa estranha, mulher mais velha com rapaz novo... com certeza, deve ter um fogo entre as pernas que nem maremoto apaga!
-Se é! E enquanto isso, a Maricota... tá sabendo? Dizem que o marido arranjou outra, porque ela é frígida! Não sente nada!
-Nada? Nadica?
-Nadica de nada!

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Alguns minutos depois, Dona Joana retoma a conversa:

-Você viu que pouca vergonha aquele programa de ontem?
-O tal de' rialitichou?'
-Esse mesmo! Foi dia de festa, e depois da bebedeira e da rebolação, aquela esfregação debaixo do edredon... que horror!
-E mesmo! Esse tipo de programa deveria ser proibido!
-E não é que é mesmo?
-Ora, se é! E eu acho que aquela sirigaita loura, a da trança...
-A Juliana?
-Essa mesma! É ela que tem que ser eliminada, pois é a mais falsa ali dentro!
-Você acha mesmo? Eu acho que a morena é pior.
-Quem, a Paula?
-Essa! Eu nunca lembro os nomes direito...

O calor da tarde só aumentava. Enxugando o suor da testa com as costas da mão, Dona Maria comenta:




- Sabe, meu filho anda frequentando um centro espírita.
-Que horror!
-Pois é. Já fiz de tudo para ele parar de ir. Já até pedi ao Padre Jackson para conversar com ele, mas não adiantou!
-Olha, eu conheço uma rezadeira que é tiro e queda! Ela faz cada simpatia que não falha!
-É mesmo? Me dá o endereço?
-Faço melhor: vou lá com você amanhã, topa?
-Topo! Mas... não olhe agora, comadre... mas a filha da Dona Gigi acaba de passar de mãos dadas com aquele motoqueiro!
-O de cabelo comprido?
-Esse mesmo.
-Dizem que não vale nada!... Mas... aquela lá que está chegando, não é a Lucinha, sua filha? Na garupa da motocicleta?!


Empertigando-se, a outra responde:

-É ela sim, ora. Por que?
-Mas não fica bem pra moça de família andar por aí de moto com cabeludos, comadre! Se eu fosse você, dava uma chamada nela!
-Ora, amiga! O padre ensinou que não se deve julgar os outros!
-Tem razão, comadre. Tem razão...

Naquele momento, uma enorme jaca despenca da árvore, espatifando-se no chão, bem aos pés das duas comadres.

Um comentário:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkk Ai que divertido, Ana!

    A jaca bem que podia cair na cabeça delas, não acha?
    Muito legal de ler. E o pior minha amiga é que as comadres existem, e COMO! rsr

    bacios e bom findi!!
    :)

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