quarta-feira, 19 de junho de 2013

A Louca - Uma História de Terror Virtual





A LOUCA - UMA HISTÓRIA DE TERROR VIRTUAL

- Três personagens - A louca número 1
-A Louca número 2
-A outra

Participava de um site de escritores amadores. Na verdade, começara a escrever a fim de espantar seus fantasmas, mas sempre acabava envolvida em relacionamentos virtuais destrutivos. Acabava fazendo muitos inimigos - principalmente, inimigas - pois morria de ciúmes das pessoas com quem se relacionava, e se por um acaso, uma mulher comentasse, inadvertidamente, a página do seu 'affair' do momento, investia com unhas e dentes contra ela. Dizia-se sofredora, vítima das demais pessoas. Perseguia, quando dizia-se perseguida. Quando extrapolava os limites do bom senso, alegava sofrer de problemas psicológicos que a dominavam, e faziam com que agisse daquela forma.


Mas um dia, ela encontrou alguém que não se encolheu diante de suas ameaças e zombarias. Uma pessoa, que exatamente por não ter absolutamente nada a dever, ergueu a cabeça e a enfrentou. Como ela não tinha sequer um argumento para acusar tal pessoa, começou a inventar histórias a respeito dela, e espalhá-las pela Internet. Chegou a difamar impiedosamente tal pessoa, ao publicar um texto intitulado "Botando a Boca no Trombone," no qual acusava seu desafeto de tentar 'roubar-lhe' o namorado virtual - um homem casado, por quem seu desafeto jamais poderia interessar-se, pois além de ser ela também casada, e muito bem casada, não se sentia atraída por relacionamentos virtuais.


Denunciada à administração do site de escritores, a louca foi obrigada a retirar o texto incriminador e mentiroso. Daí, passou a verter ódio através dos poros, dos olhos, da boca, da alma. Chegou a desejar, como comentarista anônima, que a sua suposta inimiga morresse de uma doença degenerativa longa e dolorosa. Sua maldade fugiu ao próprio controle, enegrecendo sua alma. Ameaçava denunciar a sua inimiga à polícia, embora nunca o tenha feito, justamente por ter, no fundo de sua consciência, certeza absoluta que as acusações que perpetrava contra ela, eram todas falsas.


Sentia, dentro de si, inveja e ciúmes crescentes pela outra mulher. Não via que ela mesma tinha capacidade e talento para escrever coisas belíssimas, e passava dias vasculhando a escrivaninha da outra, achando que ela escrevia-lhe mensagens veladas, e por causa de sua insistência, muitos dos poemas e textos escritos por sua perseguida foram retirados pela administração do site. Achava, em sua imaginação doentia, que seu namorado virtual estava apaixonado pela outra- que jamais teve com ele qualquer intimidade. Apenas comentava, de vez em quando, algo que ela escrevia. 


O tempo passou, e a louca resolveu procurar ajuda psiquiátrica. Acabou se convencendo de que tinha um problema real; mas, ao invés de fazer uma análise psicológica dela mesma, mandou que seu psiquiatra fizesse uma análise da outra, seu desafeto! E fez questão de publicar o texto que continha o 'laudo psicológico' da outra mulher. Aquilo só serviu para provar o quanto ela estava realmente obcecada pela outra. Dormia e acordava pensando nela. Lia e relia seus textos, e tido o que escrevia, era a respeito dela. 


Um dia, a outra passou por um momento terrível em sua vida - a perda de um membro de sua família. Talvez por ver a outra fragilizada, a louca sentiu-se mais forte, e acabou sentindo culpa por todas as maldades que tinha feito contra ela. Devido a desentendimentos com a administração do site de escritores, seu desafeto resolveu ir escrever em outros espaços, fechando sua escrivaninha. Enquanto isso, a outra descobriu que sem a presença de sua assim denominada inimiga, ela não tinha mais a quem espezinhar. 


Quando percebeu que tinha ido, realmente , longe demais, passou a escrever-lhe vários emails, pedindo perdão. Em um deles, aqui copiado, escreveu:


Mensagem:

EU VOU COMEÇAR O MEU ANO RETIRANDO DE MINHA PÁGINA TODOS AQUELES TEXTOS QUE TE OFENDERAM... POR PURO CIÚMES DO JOÃO (nome fictício) ... AGORA O CARA ESTÁ AÍ FELIZ COM A ESPOSA E EU ATRAÍ ÓDIO POR CIÚME BESTA... ALIÁS EU SOU A PESSOA MAIS SOLITÁRIA DO MUNDO... VIVO COMO UMA ERMITÃ HÁ MAIS DE DEZ ANOS PORQUE PERCO TODO HOMEM QUE SE APROXIMA DE MIM POR CIÚME....

ESPERO QUE UM DIA VC POSSA ME PERDOAR


NEUSA (nome fictício)

Finalmente, seu desafeto concordou em perdoá-la. Ao mesmo tempo, voltou a escrever no espaço de onde tinha saído. As duas passaram a manter relações cordiais, mas sem amizade, pois a moça agredida sabia muito bem que ninguém que odeia tanto, é capaz de arrepender-se sinceramente. Quando a louca a comentava, ela retribuía, e as coisas ficaram assim.

Certo dia, uma outra louca surgiu, a louca número dois, e começou também a atacar a outra sem motivo algum - mais tarde, a outra descobriu que tudo aquilo tinha sido porque ela comentara a escrivaninha de um desafeto seu, com quem a louca número dois tinha tido desentendimentos devido a questões literárias. Imediatamente, a louca número dois, ao ver os comentários da outra, concluiu que ela estivesse de conluio com seus inimigos contra ela - uma paranoia comum no mundo virtual. Passou a escrever pequenos poemas contendo insinuações contra a outra. Mais uma vez, a outra, que nada tinha a temer, respondeu à altura. Nesse ínterim, ela perdeu mais um membro de sua família, fato sobre o qual a louca número dois passou a escrever zombeteiramente. Desejava-lhe que tudo de ruim acontecesse - e tudo apenas por causa de um mal entendido, distorção da verdade, que sua vaidade e ego exageradamente inflados criaram em sua cabeça.

A louca número um, de repente, desapareceu do site de escritores, coisa que era comum, pois ela vivia fechando sua escrivaninha. Enquanto isso, a louca número dois escreveu um texto horroroso, falando daquilo que ela achava ser a 'personalidade' da outra, expondo fatos de sua vida (suas perdas) e dizendo que ela merecia passar por tudo aquilo, e por coisas ainda piores! Dizia que as pessoas falecidas tinham morrido porque a outra  precisava de castigo. Para isso, contatou a louca número um - a que pedira perdão sem jamais ter sido sincera - e ambas decidiram se juntar novamente contra a outra. Após juntarem suas 'informações' distorcidas e cheias de ódio, somaram todos os 'fatos' e caíram novamente em cima da outra. 

A louca número 1 voltou a abrir sua escrivaninha, e passou a escrever poemas onde diz que a outra é louca, chamando-a de demônio, falsa, perigosa, e até mesmo copiando títulos de suas crônicas para melhor rechaçar sua moral. 

Enquanto isso, a louca número dois passou a deixar links para outros espaços seus na internet, nos quais ela escreve poemas onde pretende traçar a personalidade da outra.

Já a outra, após publicar um livro de poemas cujos exemplares se esgotaram após o terceiro mês de lançamento, foi convidada para fazer parte de várias antologias de contos e poesias - eu disse convidada, sem precisar pagar por isso - e teve um e-livro publicado também à convite. Abriu três blogs e continuou a escrever seus poemas no outro site de escritores, onde está até os dias de hoje.

E esta história horrível não termina aqui, já que o terror virtual da inveja, da calúnia e da difamação continua, e sempre continuará, pois o espaço virtual sempre será assombrado pelas terríveis criaturas da noite, que nunca se cansam de espalhar o ódio e o desentendimento aonde quer que vão.


7 comentários:

  1. Nossa,quanta loucura!...rss...tem muita gente louca nesse mundo virtual!bjs,

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  2. Boa noite, Ana. Parabéns! Você retratou exatamente o que acontece no mundo virtual.
    Já soube de brigas por causa de homem, que você não faz ideia.
    Teve uma mulher que entrou no face de cada mulher que tinha o seu "namorado" como amigo, e enviou uma mensagem dizendo que precisa excluir a cada uma de nós por problemas sentimentais.
    Pediu desculpas, disse que não era pessoal e assim o fez.
    A achei completamente LOUCA, sem noção.
    Depois vem ela com outro discurso, pedindo que a adicionasse novamente.
    Eu não fiz isso.
    Motivo torpe, logo, não queria esse tipo de relação para mim.
    Cada um faz o que quiser na net, paquera, namora, ama, no toque ou não, só que não acho que deva afetar a vida de ninguém tal postura.
    Cada caso que vem aos meus ouvidos, que não posso crer!
    Adorei esse espaço que ainda não conhecia.
    Beijo grande e fique na paz!

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  3. Olá!Boa noite
    Ana
    ...é assim mesmo que vc bem relatou...é o que acontece muito nos bastidores das redes sociais.Eu mesmo, já fui caluniado,bloqueado, atacado, por diversos motivos , que não vem ao caso, mas muito próximo dese seu relato.Menos mal seria, se fossem rusgas literárias...
    Me tornei um verdadeiro protagonista de um drama virtual em vez de só fazer parte do público espectador,afinal,nem sabia do que estava acontecendo.Eu "vejo" muitos e muitas,idealizando situações, interpretando e até mesmo colocando outros na história que está criando, sempre com uma perspectiva acusadora, e deixando de lado uma convivência sadia , onde um bom diálogo é a base de tudo, pois evita que mal entendidos ocorram e acabem levando a discussões...
    Obrigado pelo carinho da visita
    Boa quinta feira
    Beijos

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  4. Boa Noite Ana,
    Li seu texto dramático,prendeu-me a atenção.Toda essa loucura foi assim mesmo?Oh mon Dieu..o que faz o ciúme!Estraçalha as pessoas,causa problemas a todos e só leva a inimizades etc...Gostei também de um sininho ou campainha aqui que me enganou a princípio.Pensei que fosse algo por aqui e não achava.Bj.

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  5. Amiga, homem na vida real já deixa tudo quanto mulher louca, imaginem então o virtual! :)
    Creio que está história é baseada numa história mais que real, não?
    Abraços renovados!

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  6. NOSSA ANA, INFELIZMENTE É VERDADE. MAS AMEI A SUA MANEIRA DE DESCREVER, E COMO TEM PESSOAS DESNECESSARIAMENTE FRACAS E CIUMENTAS. ACREDITO ISTO SER TIRADO DE FATOS REAIS.
    MAS ADOREI TE LER NOVAMENTE.

    BJS PATTY

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