terça-feira, 4 de junho de 2013

O MESTRE





O MESTRE 

Eu estava perdido, sem saber para onde ir ou em quem acreditar. Desejava ardentemente que os céus se abrissem e que uma luz branca e brilhante descesse sobre mim, e dissesse: "Faça isto!" ou "Venha por aqui!". Escolher um caminho a seguir tinha se tornado um dilema sem fim, e eu vagava pelo mundo procurando por meu Mestre. 

Alguém havia me dito que "Quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece." E eu acreditei. Achava que estava pronto, mas nada do Mestre aparecer. Sim, eu estava perdido, cada vez mais perdido.

Um belo dia (seria mesmo um 'belo' dia?) embrenhei-me por uma floresta, dizendo a mim mesmo: "Das duas, uma: ou encontro meu Mestre nesta floresta, ou uma fera há de me devorar e por fim a essa minha inútil existência." Assim dizendo, fui caminhando floresta adentro, cada vez mais, até que as copas das árvorers estavam tão próximas umas das outras, que eu mal conseguia ver o céu. Tudo tornou-se escuro, e a atmosfera, pesada e úmida.

Nem sei ao certo por quanto tempo caminhei, tendo o chão lamacento e coberto de folhas secas como apoio - e escorregando inúmeras vezes - escutando o sibilar das víboras que me espreitavam e outros estranhos ruídos que nem soube identificar. O canto dos pássaros há muito cessara, pois nem mesmo eles se atreveriam a voar por aquelas paragens. A escuridão crescia, e eu não podia dizer se era dia ou se era noite.



Até que um dia, senti que o chão tornava-se mais firme, e que a claridade aos poucos aumentava. 

Foi nesse dia que eu o vi, sentado sobre uma pedra bem no meio de uma clareira. Um raio de sol incidia sobre seus longos cabelos brancos, e havia uma aura de luz a sua volta.

Fiquei ainda algum tempo a observá-lo. Ele segurava uma pequena vara e escrevia sobre o solo. De repente, ele ergueu a cabeça e olhou bem na minha direção. Quando nossos olhos se encontraram, um arrepio percorreu todo o meu corpo, e ele fez sinal para que eu me aproximasse.

Com o coração cheio de esperança, caminhei em sua direção, sem jamais deixar de olhar para ele. Finalmente, minha busca havia terminado! 

Sentei-me no chão, bem diante dele, e fiquei aguardando suas instruções. Ele apenas olhava para mim, e tão grande era a paz de seu olhar, que até esqueci de que já não comia há vários dias. Ele começou a procurar alguma coisa no bolso de sua camisa, e puxando um cigarro para fora do bolso, colocou-o na boca, dizendo: "Há muito eu esperava por este momento! Você tem fósforos?"

Eu mal pude acreditar no que estava ouvindo! Toda a minha vida dedicada à preparação do encontro com aquele que seria meu Grande Mestre, e ele nada mais era que um homem comum, e ainda por cima, viciado em cigarros? Retruquei:

"Como assim? Eu pensei que você seria meu Grande mestre! Passei dias e dias cruzando esta floresta escura e perigosa apenas para encontrá-lo, e isso é tudo o que você tem a me dizer?"

Ele pareceu surpreso. Respondeu: " Bem, eu não sei o que você quer dizer com essa estória de mestre...nem sei por que você se deu ao trabalho de cruzar a floresta para chegar até aqui. Bastaria ter usado a rodovia", ele disse, apontando-me o caminho mais adiante. "Meu carro está estacionado lá. Esta é uma das florestas mais escuras e perigosas da qual já ouvi falar, e certamente alguém que consegue, sozinho, cruzá-la sem ser morto pelas víboras e por outras centenas de animais selvagens que aqui vivem, com certeza, não precisa de mestre algum."

Dizendo isso, ele se foi.

Naquele dia, tornei-me um iluminado.



4 comentários:

  1. Que maravilha de texto!A leitura agradável que prende a atenção.Um final que surpreende e faz refletir.Aplausos!!

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  2. Realmente, o final é surpreendente. Ele me fez lembrar de um texto que li recentemente que falava como deixamos de ver o simples achando que tudo é mais 'elaborado'.

    Beijos

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  3. Excelentebpara começarmos a semana, beijo Lisette.

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  4. Que coisa hein? Aquele que procurava ensinamentos acabou sendo o próprio.
    Nunca esperaria este desfecho, sabia?rsrs
    Você sabe surpreender e acima de tudo entreter o leitor. Você é escritora minha cara, e das boas!

    bacios com abraços tá? kkkk

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