segunda-feira, 3 de junho de 2013

O Cão Negro






Há muito tempo, ele vinha observando aquela casa. Ficava escondido no meio do mato com um binóculo, e sabia a hora e a chegada de todos na casa, os hábitos dos moradores - quem dormia mais tarde, quem acordava mais cedo , o tempo que o portão permanecia aberto antes que cada membro pudesse entrar com o carro. Sabia que quem levava mais tempo, era a filha mais nova, que tinha tirado a carteira de habilitação há pouco tempo. Seria mais fácil quando ela estivesse chegando.

Já teria alcançado seu objetivo há algum tempo, não fosse pelo enorme cão preto que circulava sempre pelo quintal da casa, com ar ameaçador, músculos fortes, olhar atento, sempre farejando o ar. Às vezes, o cão preto olhava diretamente para o ponto onde ele estava, como se pudesse vê-lo. Sabia que estava totalmente escondido, mas sentia o olhar do cão sobre si. Ele era realmente enorme e ameaçador, e seria muito difícil passar por ele. Ou melhor, seria impossível!

Bolas de veneno estavam fora de cogitação, pois apesar de sua profissão pouco ética - ele era um ladrão de residências - amava cães. Tinha vários em sua própria casa. Normalmente, jogava apenas carne com tranquilizantes. Mas apesar de já ter feito a tentativa naquela casa, o cão apenas cheirara o pedaço de carne, sem comê-lo, enterrando-o no quintal. Era treinado...

Já fazia mais de um mês que ele observava, pacientemente. Só que toda paciência tem seus limites. Decidiu jogar a bola de veneno, embora lamentasse profundamente. Mas trabalho era trabalho. E aquela era a casa da vez. Ora, até mesmo os ladrões precisam comer... 




Por saber saber que o cão era treinado, e que possivelmente, não comeria o veneno, daquela vez ele caprichou mais: comprou um bife de filé, fritou-o bem, colocando molhos deliciosos que, acreditava, seriam irresistíveis para o cão. Preparou tudo durante a tarde, e de madrugada, quando a última luz da casa foi apagada, jogou o bife por cima do muro e foi para o seu posto de observação. Tivera o cuidado de usar luvas, para que seu cheiro não contaminasse o bife, confundindo o cão.

Observou atentamente e viu o momento em que o cão aproximou-se do pedaço de carne, cheirou-o e começou a comê-lo lentamente. Não sabia que a família tinha comido bifes no jantar, e que por isso, o cão acreditou que alguém da casa tinha deixado aquele bife para ele. Alguns minutos apenas, e o cão começou a agonizar sobre o gramado. A família acudiu, chamando um veterinário, mas foi em vão: o cão veio a óbito.

Ele resolveu que seria melhor esperar algum tempo antes de entrar na casa, pois a família poderia suspeitar que o cão tivesse sido morto por alguém com a intenção de roubar; assim, aguardou ainda alguns meses.

E foi nas férias de verão que ele decidiu colocar seu plano em ação. 

Pulou o muro em uma noite de quarta-feira. Era um expert em desligar alarmes e abrir cofres, e isso não seria nenhum problema para ele. Andava calmamente pelo jardim, na certeza absoluta de estar só no terreno da casa, quando ouviu um rosnado seco atrás de si. Virou-se vagarosamente, sentindo-se gelar, e deparou com o imenso cão preto, que se preparava para atacá-lo. Tentou correr, mas o cão alcançou-o facilmente, e antes que ele saltasse sobre seu pescoço, o ladrão morreu de um ataque cardíaco.

Quando a família retornou da viagem, encontrou o corpo em decomposição no quintal da casa, e deram graças a Deus pela sua sorte. Justamente no momento em que tinham perdido o cão de guarda, um ladrão sofrera um ataque cardíaco antes que pudesse assaltar-lhes a casa!


3 comentários:

  1. É Ana muito bom conto, adorei o final, beijos Luconi

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  2. Ainda bem o que o larápio morreu.teve o castigo que mereceu! Pretendo ler seus contos todos,uma arte para a qual tem bastante talento e criatividade.Seguirei o blog.Bj

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