quarta-feira, 1 de maio de 2013

A Ciganinha - microconto







A Ciganinha



"Vai a sorte, senhora? Tarôt, mão, presente, passado e futuro..."


Este era o seu pregão, a todos  que passavam por ela - uma ciganinha de porte miúdo, já de meia-idade, sentada sozinha num banquinho no calçadão da Praia de Iracema. Tinha os olhos contornados com lápis preto, meio-borrados, e os lábios pintados por um batom vermelho sem-brilho. Cabelos pretos e longos,um tanto ensebados e já ficando grisalhos. As roupas , uma fantasia de cigana, estavam rotas e sujas.


Ela fica ali o tempo todo (passamos por ela duas noites seguidas). Tem o olhar um tanto perdido, e não sei como ela pretende convencer alguém de que é capaz de ler o futuro. Uma pessoa tão sem expectativas... fiquei pensando na possível vida que aquela moça leva: muito pobre, talvez more muito mal ou nem tenha onde morar. Quem sabe, tem filhos pequenos? Ou talvez seja totalmente sozinha.


Pode ser que ela sonhe com uma cigana de verdade, que um dia, há de chegar perto dela, sentando-se ao seu lado, tomando-lhe as mãos e lendo, para ela, um lindo futuro!...



3 comentários:

  1. UAU ANA.
    EM POUCAS PALAVRAS DISSE TUDO, IMAGINO QUANTAS PESSOAS ESTÃO NA MESMA SITUAÇÃO DESTA CINGANINHA, SEM PERSPECTIVAS DE MTO, MAS NÃO DESITE, E QUEM SABE ESPRANDO POR UM FUTURO MELHOR.

    BJS GRANDE

    PATTY.

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  2. Viajei no intimo da ciganinha como se eu a conhecesse, como se ela realmente existisse.

    Ótimo! Deu vida e convicção ao texto!

    Um abraço Aninha, e muito obrigada pela visita.

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  3. o)O(o POESIA NOTURNA o)O(o2 de maio de 2013 às 11:43

    Seu conto me fez lembrar de quando eu tinha uns 10/11 anos, durante um passeio de escola, uma cigana veio para ler as mãos do grupo, era uma figura bem parecida como a que você descreveu: cabelo ensebado e já ficando grisalho. Ela tinha cordão e pulseiras de moedas douradas, muita roupa, saia pesada de tecidos de estampas que não casavam entre si... Lembro-me que nos assustamos, os professores procuravam afastar as crianças dela (sem questionar aqui se tinham ou não razão nesse afastamento). É realmente interessante, tecer a cena de como deveria ser a vida de uma cigana, se feliz ou triste, lendo a sorte dos demais quando a vida dela mesma poderia ser um grande infortúnio!
    Adorei o conto! Beijos Anna, uma excelente semana! &:)

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